UMA COLETÂNEA DE PENSAMENTOS É UMA FARMÁCIA MORAL ONDE SE ENCONTRAM REMÉDIOS PARA TODOS OS MALES - Voltaire
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Não sabemos namorar - Carpinejar
Agora dei para mascar chiclete com sabor melancia. Deveria esconder esse detalhe.
Mórbido para quem atravessou os 36 anos.
Mas vejo o quanto escondo o romantismo debaixo da mordida. Sou açucarado.
Meu beijo é diabético. Logo eu que passo uma imagem seca de bolacha de sal.
Vá lá, não vou sorrir para mim de noite ou pedir a benção para os apaixonados,
mas não acredito nesta história de acomodação no romance.
Que de uma hora para outra cansamos.
Não é cansaço, não é que paramos de seduzir porque conquistamos
e que não precisamos mais arrebatar com surpresas.
Não é que estamos seguros e não arriscamos mais.
Não é o conforto ou o domínio territorial.
Senão começaremos a acreditar que existe cupido.
E cupido é o mais cafona dos anjos.
Quem começa uma relação com cupido termina na fossa
repetindo os erros ortográficos das canções sertanejas.
Confio que há gente que não saiba namorar. Não sabe namorar, e pronto.
Supõe que é instintivo, natural, que é beijar, abraçar e os oceanos transportam a espuma.
Que basta amar e as relações funcionam. Mas as relações queimam pelo pouco uso.
A eletricidade enferruja.
Há gente que jura que namorar é cumprir um expediente depois do expediente:
jantar, conversar e transar.
Há gente que não quer namorar,
e sim uma amizade para dividir o que se é. Sem tensão. Sem cobrança. Sem nervosismo.
Que tudo está definido e seguro para o final do ano,
que não pode ser perdido no próximo minuto.
Eu acabei de perder o próximo minuto. Namoro é ambição.
É um final de semana a cada dia. É uma delicadeza insuportável,
antecipar os movimentos e agradar quando não se espera.
Gentileza em cima de gentileza, infindável.
Um cuidado para não magoar com aviso e pergunta,
com aquela educação concedida a gestantes e idosos.
Namorar requer uma atenção absoluta.
E não reclame: amar pode ser para toda a vida quando oferecemos toda a nossa vida.
Tem que se preparar, ceder, abrir espaço, oferecer, renunciar.
A inquietação nasce da paciência. A criatividade nasce de uma porta fechada.
É um extremismo terrorista. Explodiremos civis.
Durante algum desentendimento, mobiliza-se a genealogia da imaginação para escandalizar de novo. Carro de som, helicóptero, arranjos suicidas pela janela. Não é permitido ficar quieto, parado, para conversar a respeito. A conversa demora.
No namoro, não existe como ser egoísta. Egoísmo se deixa no JK.
É pensar pelo outro, com o outro, como o outro.
É ter uma lista de compra de mercado na ponta da língua, junto com o chiclete de melancia:
qual a pasta de dente que ela usa, o xampu, o condicionador, o azeite, o leite que toma, o suco... Desconhecer a geladeira da namorada é passagem direta para o congelador.
É entrar numa livraria e pensar no livro que ela vai gostar, é entrar numa loja e pensar um vaso que combinaria com sua sala, é entrar no cemitério e sonhar com um mausoléu para a família, sim, planejar a morte junto - nada mais romântico.
É entrar em si mesmo e lustrar as memórias mais distantes
para parecer orfão antes de sua chegada.
Agora dei para mascar a minha boca.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Além da estrada... - Fernando Pessoa
"Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui
e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que ha
para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá,
quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma."
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui
e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que ha
para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá,
quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma."
Aceitação - Charles Chaplin
Viver é aprender - Lya Luft
"Às vezes é preciso recolher-se.
O coração não quer obedecer,
mas alguma vez aquieta;
A ansiedade tem pés ligeiros,
mas alguma vez resolve
Sentar-se à beira dessas águas.
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir.
É um começo de sabedoria, e dói.
Dói controlar o pensamento,
dói abafar o sentimento,
além de ser doloroso parece pobre,
triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor;
curtir quem hoje se ausenta
era tão imensamente mais rico.
Não queremos escutar essa lição da vida,
amadurecer parece algo sombrio,
definitivo e assustador.
Mas às vezes aquietar-se
e esperar que o amor do outro
nos descubra nesta praia isolada
é só o que nos resta.
Entramos no casulo
fabricado com tanta dificuldade
e ficamos quase sem sonhar.
Quem nos vê nos julga alheados,
quem já não nos escuta pensa
que emudecemos para sempre,
e a gente mesmo às vezes desconfia
de que nunca mais será capaz
de nada claro, alegre, feliz.
Mas quem nos amou,
se talvez nos amar ainda há de saber
que se nossa essência é ambigüidade e mutação,
este silencio é tanto uma máscara quanto foram,
quem sabe, um dia os seus acenos."
O coração não quer obedecer,
mas alguma vez aquieta;
A ansiedade tem pés ligeiros,
mas alguma vez resolve
Sentar-se à beira dessas águas.
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir.
É um começo de sabedoria, e dói.
Dói controlar o pensamento,
dói abafar o sentimento,
além de ser doloroso parece pobre,
triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor;
curtir quem hoje se ausenta
era tão imensamente mais rico.
Não queremos escutar essa lição da vida,
amadurecer parece algo sombrio,
definitivo e assustador.
Mas às vezes aquietar-se
e esperar que o amor do outro
nos descubra nesta praia isolada
é só o que nos resta.
Entramos no casulo
fabricado com tanta dificuldade
e ficamos quase sem sonhar.
Quem nos vê nos julga alheados,
quem já não nos escuta pensa
que emudecemos para sempre,
e a gente mesmo às vezes desconfia
de que nunca mais será capaz
de nada claro, alegre, feliz.
Mas quem nos amou,
se talvez nos amar ainda há de saber
que se nossa essência é ambigüidade e mutação,
este silencio é tanto uma máscara quanto foram,
quem sabe, um dia os seus acenos."
Viver não tem cura... - Rubem Alves
"Acontece, entretanto, que não existe coisa alguma
que seja do tamanho do nosso amor.
A nossa fome de beleza é grande demais.
Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele.
E a bela cena retornará à sua condição
de sonho impossível da alma.
E só restará a ela alimentar-se da nostalgia
que rosto algum poderá satisfazer... "
que seja do tamanho do nosso amor.
A nossa fome de beleza é grande demais.
Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele.
E a bela cena retornará à sua condição
de sonho impossível da alma.
E só restará a ela alimentar-se da nostalgia
que rosto algum poderá satisfazer... "
sábado, 26 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Decisões - Freud
"Ao tomar uma decisão de menor importância,
eu descobri que é sempre vantajoso considerar
todos os prós e contras.
Em assuntos vitais, no entanto,
tais como a escolha de um companheiro ou profissão,
a decisão deve vir do inconsciente,
de algum lugar dentro de nós.
Nas decisões importantes da vida pessoal,
devemos ser governados, penso eu,
pelas profundas necessidades íntimas da nossa natureza."
eu descobri que é sempre vantajoso considerar
todos os prós e contras.
Em assuntos vitais, no entanto,
tais como a escolha de um companheiro ou profissão,
a decisão deve vir do inconsciente,
de algum lugar dentro de nós.
Nas decisões importantes da vida pessoal,
devemos ser governados, penso eu,
pelas profundas necessidades íntimas da nossa natureza."
Somos transição - Lya Luft
Somos autores de boa parte de nossas escolhas e omissões,
audácia ou acomodação,
nossa esperança e fraternidade ou nossa desconfiança.
Sobretudo, devemos resolver como empregamos e saboreamos nosso tempo,
que é afinal sempre o tempo presente.
Mas somos inocentes das fatalidades e dos acasos brutais que nos roubam amores,
pessoas, saúde, emprego, segurança, ideais.
De modo que minha perspectiva do ser humano, de mim mesma,
é tão contraditória quanto, instigantemente, somos.
Somos transição,
somos processo.
E isso nos perturba.
in Perdas e Ganhos
audácia ou acomodação,
nossa esperança e fraternidade ou nossa desconfiança.
Sobretudo, devemos resolver como empregamos e saboreamos nosso tempo,
que é afinal sempre o tempo presente.
Mas somos inocentes das fatalidades e dos acasos brutais que nos roubam amores,
pessoas, saúde, emprego, segurança, ideais.
De modo que minha perspectiva do ser humano, de mim mesma,
é tão contraditória quanto, instigantemente, somos.
Somos transição,
somos processo.
E isso nos perturba.
in Perdas e Ganhos
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Dar um tempo - Fabrício Carpinejar
Não conheço algo mais irritante do que dar um tempo, para quem pede e para quem recebe.
O casal lembra um amontoado de papéis colados. Papéis presos.
Tentar desdobrar uma carta molhada é difícil. Ela rasga nos vincos.
Tentar sair de um passado sem arranhar é tão difícil quanto.
Vai rasgar de qualquer jeito, porque envolve expectativa e uma boa dose de suspense.
Os pratos vão quebrar, haverá choro, dor de cotovelo, ciúme, inveja, ódio.
É natural explodir. Não é possível arrumar a gravata ou pintar o rosto quando se briga.
Não se fica bonito, o rosto incha com ou sem lágrimas.
Dar um tempo é se reprimir, supor que se sai e se entra em uma vida com indiferença,
sem levar ou deixar algo.
Dar um tempo é uma invenção fácil para não sofrer.
Mas dar um tempo faz sofrer pois não se diz a verdade.
Dar um tempo é igual a praguejar "desapareça da minha frente".
É despejar, escorraçar, dispensar. Não há delicadeza. Aspira ao cinismo.
É despejar, escorraçar, dispensar. Não há delicadeza. Aspira ao cinismo.
É um jeito educado de faltar com a educação.
Dar um tempo não deveria existir porque não se deu a eternidade antes.
Quando se dá um tempo é que não há mais tempo para dar,
já se gastou o tempo com a possibilidade de um novo romance.
Só se dá o tempo para avisar que o tempo acabou.
E amor não é consulta, não é terapia, para se controlar o tempo.
Quem conta beijos e olha o relógio insistentemente não estava vivo para dar tempo.
Deveria dar distância, tempo não. Tempo se consome, se acaba, não é mercadoria, não é corpo. Tempo se esgota, como um pássaro lambe as asas e bebe o ar que sobrou de seu vôo.
Qualquer um odeia eufemismo, compaixão, piedade tola.
Odeia ser enganado com sinônimos e atenuantes.
Odeia ser abafado, sonegado, traído por um termo.
Que seja a mais dura palavra, nunca dar um tempo.
Dar um tempo é uma ilusão que não será promovida a esperança.
Dar um tempo é tirar o tempo. Dar um tempo é fingido.
Melhor a clareza do que os modos.
Dar um tempo é covardia, para quem não tem coragem de se despedir.
Dar um tempo é um tchau que não teve a convicção de um adeus.
Dar um tempo não significa nada e é justamente o nada que dói.
Resumir a relação a um ato mecânico dói.
Todos dão um tempo e ninguém pretende ser igual a todos nessa hora.
Espera-se algo que escape do lugar-comum.
Uma frase honesta, autêntica, sublime, ainda que triste.
Não se pode dar um tempo, não existe mais coincidência de tempos entre os dois.
Dar um tempo é roubar o tempo que foi.
Convencionou-se como forma de sair da relação limpo e de banho lavado, sem sinais de violência. Ora, não há maior violência do que dar o tempo.
É mandar matar e acreditar que não se sujou as mãos.
É compatível em maldade com "quero continuar sendo teu amigo".
O que se adia não será cumprido depois.
do livro "O amor esquece de começar"
domingo, 20 de setembro de 2009
Me encante - Pablo Nerruda
Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar…
Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.
Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.
Me acarinhe se quiser…
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.
Me encante com seus olhos…
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar…
E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar…
Me encante com suas palavras…
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.
Me encante com serenidade…
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.
Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.
Me encante como você fez com o seu primeiro namorado…
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.
Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva….
Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre…
Mas, me encante de verdade, com vontade…
Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias…
Pelo resto das nossas vidas!!!
Me encante, para que eu possa me dar…
Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.
Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.
Me acarinhe se quiser…
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.
Me encante com seus olhos…
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar…
E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar…
Me encante com suas palavras…
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.
Me encante com serenidade…
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.
Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.
Me encante como você fez com o seu primeiro namorado…
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.
Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva….
Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre…
Mas, me encante de verdade, com vontade…
Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias…
Pelo resto das nossas vidas!!!
sábado, 19 de setembro de 2009
Canção - Cecília Meirelles
No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo que existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.
A dor alheia - Pe. Fábio de Melo
“Costumamos dizer que reconhecemos os grandes amigos no momento de nossos sofrimentos, mas não é verdade.
Os verdadeiros amigos são aqueles que suportam a duração de nossa alegria.
O sofrimento é uma realidade que nos congrega com mais profundidade.
O Shopenhauer dizia que o sofrimento do outro nos acorda para a verdade de nossa condição. Somos frágeis. E, ao encontrar o outro mergulhado em sua dor,
é natural que brote dentro de nós a compaixão.
Esse sentimento ocorre até mesmo quando estamos diante de nosso inimigo.
Ao deparar com a dor alheia, de alguma forma descubro a totalidade do meu ser.
É como se eu ouvisse a confissão desconcertante: “Tu és isso.”
A dor que dói no outro é uma janela de onde eu me enxergo.
É como se por um instante fosse quebrada a nossa capacidade de diferenciação.
O outro sou eu.
Não posso vê-lo sofrer sem nele identificar minha inegável condição de fragilidade.”
in "Carta entre amigos"
Desencanto - Manuel Bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo algum de pranto.
Meu verso é sangue , volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota à gota, do coração.
E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca—
Eu faço versos como quem morre.
in “A cinza das horas”
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo algum de pranto.
Meu verso é sangue , volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota à gota, do coração.
E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca—
Eu faço versos como quem morre.
in “A cinza das horas”
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Amor prá recomeçar - Frejat
Eu te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo
E com os que erram
Feio e bastante
Que você consiga
Ser tolerante
Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero
Eu te desejo muitos amigos
Mas que em um
Você possa confiar
E que tenha até
Inimigos
Pra você não deixar
De duvidar
Desejo, que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Pra recomeçar, pra recomeçar...
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo
E com os que erram
Feio e bastante
Que você consiga
Ser tolerante
Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero
Eu te desejo muitos amigos
Mas que em um
Você possa confiar
E que tenha até
Inimigos
Pra você não deixar
De duvidar
Desejo, que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Pra recomeçar, pra recomeçar...
Ser - Clarice Lispector
O Haver - Vinícius de Moraes
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo- Perdoai-os!
porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
Consequências - Dalai Lama
... Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro,
depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente
de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
e morrem como se nunca tivessem vivido...
depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente
de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
e morrem como se nunca tivessem vivido...
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O melhor de... - Rubem Alves
Felicidade é discreta, silenciosa e frágil,
como a bolha de sabão.
Vai-se muito rápido, mas sempre se podem assoprar outras.
Quem é rico em sonhos não envelhece nunca.
Pode até ser que morra de repente.
Mas morrerá em pleno vôo.
Mas morrerá em pleno vôo.
O que é muito bonito.
Eternidade é o tempo quando o longe fica perto.
Não quero nem subir para os céus, nem progredir para frente.
Quero mesmo é voltar para os lugares e os tempos que amei e perdi.
A alma é o lugar da saudade.
Velhice é quando o rio se prepara para converter-se em mar.
Para tudo há um tempo.
Mas Deus colocou o coração do homem para além do tempo, na eternidade.
Seremos sábios quando nos tornamos crianças:
essa é a essência da sabedoria bíblica.
Deus é alegria.
Uma criança é alegria.
Deus e uma criança têm isso em comum:
ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos.
Deus vê o mundo com olhos de criança.
Está sempre à procura de companheiros para brincar.
Eu poderia ter sido jardineiro...
Como não fui, tento fazer jardinagem como educador,
ensinando às crianças, minhas amigas,
o encanto pela natureza.
O jardim é a face divina da nostalgia que mora em nós.
Jardins bonitos há muitos,
mas só traz alegria o jardim que nascer dentro da gente.
Otimismo é quando, sendo primavera do lado defora ,
nasce a primavera do lado de dentro.
Esperança é quando, sendo inverno do lado de fora,
a despeito dele brilha o Sol de verão no lado de dentro.
Já tive medo da morte.
Hoje não tenho mais.
O que sinto é uma enorme tristeza.
A vida é tão boa!
Não quero ir embora ...
A vida, para ser bela, deve ser cercada de verdade,
de bondade, de liberdade.
Essas são as coisas pelas quais vale a pena morrer.
Descança Coração - Simons e Marques/Alberto Ribeiro
Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder
Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão
Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder
Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão
Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz
Canção regravada por Fernanda Takai em 2007
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Pensamentos - Betinho
Fragilidade - Carlos D de Andrade
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita,
a música feita de depurações e depurações,
a delicada modelagem de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos:
não mais que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita,
a música feita de depurações e depurações,
a delicada modelagem de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos:
não mais que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Equilíbrio da vida - Machado de Assis
“E enquanto uma chora, outra ri;
é a lei do mundo, meu rico senhor;
é a perfeição universal.
Tudo chorando seria monótono,
tudo rindo cansativo,
mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas,
soluços e sarabandas,
acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária,
e faz-se o equilíbrio da vida"
in Quincas Borba
é a lei do mundo, meu rico senhor;
é a perfeição universal.
Tudo chorando seria monótono,
tudo rindo cansativo,
mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas,
soluços e sarabandas,
acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária,
e faz-se o equilíbrio da vida"
in Quincas Borba
Para refletir - Pe. Fábio de Melo
... Já desprezei muita gente importante na minha vida porque acreditei demais no que sentia.
E mesmo que meu sentimento não correspondesse ao que eu conhecia da realidade,
eu o elegia como minha verdade.
Por razões mesquinhas e vergonhosas,
permiti que o sentimento do momento me fizesse esquecer
o que eu realmente sabia sobre o outro.
Desprezei por motivos pequenos pessoas que eu já havia reconhecido grande.
A razão? Elegi a ira do momento como verdade absoluta.
Permiti que o desapontamento momentâneo prevalecesse
sobre as historias bonitas que já havia experimentado ao lado daquela pessoa”...
in Carta entre Amigos
domingo, 13 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
A viagem - José Saramago
A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória,
em lembrança, em narrativa.
Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”,
saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória,
em lembrança, em narrativa.
Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”,
saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.
A desordem da minha natureza - Gabriel G Marquez
(...) enfrentei pela primeira vez o meu ser natural enquanto decorriam os meus noventa anos. Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar,
cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo,
não era o premio merecido de uma mente ordenada mas,
pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.
Descobri que não sou disciplinado por virtude, mas como reação contra a minha negligência;
que pareço generoso para encobrir a minha mesquinhez,
que passo por prudente por ser pessimista,
que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas,
que só sou pontual para que não se saiba que pouco me importa o tempo alheio.
Descobri, por fim, que o amor não é um estado de alma mas um signo do Zodíaco.
in 'Memória das Minhas Putas Tristes'
Ira e ódio - Schopenhauer
Deixar transparecer a ira ou o ódio em palavras ou expressões faciais é inútil,
perigoso, pouco inteligente, ridículo e vulgar.
Sendo assim, a ira ou o ódio devem ser demonstrados unicamente nas ações,
e isso poderá ser feito tão mais perfeitamente
quanto mais perfeitamente forem evitadas as atitudes anteriores.
in "A Arte de Ser Feliz"
Quem sou ? - Lewis Carroll
mas no momento não tenho muita certeza.
Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã,
mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu.
(...)
Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta,
porque é justamente aí que está o problema.
Posso explicar uma porção de coisas
mas não posso explicar a mim mesma..."
in Alice no País das Maravilhas
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