Quando
sua companhia se levanta, rola para cheirar o travesseiro dela?
Você é
apaixonado por dividir, desculpe informar.
É constrangedor confessar a
dependência, mas não resta alternativa.
Nunca
será mais sozinho. É uma simbiose amorosa por dentro das lembranças,
dos hábitos, que surge no modo de repartir uma tangerina e pôr o açúcar
no café.
Uma necessidade de primeiro servir para depois saciar as
próprias ansiedades.
Entregou
os pontos ao abandonar seu horário para dormir. Renunciou ao
livre-arbítrio no momento de atender ao chamado sedutor de sua esposa.
- É tarde, te espero?
Aquela
desistência foi fatal. Pode ter classificado o gesto como uma exceção,
só que gostou de verdade, gostou imensamente de adormecer com sua
mulher. Ambos apagando o abajur em igual instante, depois de ler, de
rir, de brincar. Sincronizaram o relógio dos batimentos cardíacos e
nunca houve mais atraso de beijo.
Amor eterno é quando um não consegue mais dormir sem o outro. Simples assim. Deseja descansar, convoca sua mulher na sala.
- Vem, tá na hora!
E
ela, que estava envolvida com um filme ou um programa de tevê, nem
reclama, nem diz mais um minutinho, ajeita os ombros no cobertor do seu
abraço e segue junto.
Lado
a lado no espelho do banheiro, escovam os dentes, ajeitam o rosto,
colocam roupas folgadas. Reina uma sincronia dos movimentos, uma
disciplina na admiração. Alguns até confundem com tédio, porém, é
intimidade: não precisa falar para se entender. Se silêncio com ódio é
submissão, silêncio com ternura é concordância.
Escoteiros
do casamento, entram no mar branco dos lençóis cada um do seu lado: ela
pela margem esquerda, ele pela margem direita. E centram os corpos para
fazer conchinhas encostando as cabeças.
Um casal apaixonado ocupa menos do que uma cama de solteiro: terminam agarrados, sobrepostos.
Você
se dá conta de que não deita mais sozinho há décadas. É uma compulsão
olfativa. Está no escritório trabalhando de madrugada e ela abre a porta
para convidá-lo:
- Vem, tá na hora!
E
não estranha a ordem, obedece, sequer medita sobre o motivo da adesão.
Vai sem preguiça alguma, sem aviso de bocejo, ainda que não esteja com
vontade, ainda que tenha uma porção de tarefas e problemas a resolver.
Larga as urgências pela metade e se prontifica a acompanhá-la.
Casal
quando se ama dorme na mesma hora. E não suportará morrer longe. O
sonho é também morrer na mesma hora. Com as respirações próximas.
Um comentário:
Que texto lindooooo!!!!
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