sexta-feira, 18 de abril de 2014

Em paz - Silvia Plath

Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro,
 ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, 
tive a impressão de que havia sarado.
 Estava curada das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dois dias, praticamente impedindo que eu lesse, 
pensasse ou mesmo levasse a mão ao peito.
 Um pássaro alucinado se debatia lá dentro, preso na gaiola de osso, 
disposto a rompê-lo e sair, sacudindo meu corpo inteiro a cada tentativa. 
Senti vontade de golpear meu coração, 
arrancá-lo para deter aquela pulsação ridícula que parecia querer saltar do meu coração e sair pelo mundo, seguindo seu próprio rumo. 
Deitada, com a mão entre os seios, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, 
ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso.
 Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentada, 
mas isso não ocorreu.
 Desde que acordei estou em paz. 

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