Queremos a presença das coisas.
É tão simples, isto: queremos as coisas próximas, íntimas,
como peças de roupa pousadas na cadeira ao nosso lado.
Próximo e íntimo, desse mesmo modo, o que nos pertence ainda mais de perto:
a evidência viva do mundo. E toda inteira, já agora.
Queremos aberta a porta do ser – que há-de ter certamente uma porta.
Vendo bem, porque não haveria essa porta?
Há, em certos dias, em certos lugares do mundo,
uma tão certa harmonia entre a temperatura do corpo e a do ar
que quase se perde a noção de entre uma coisa e outra ser a pele uma fronteira.
O ar parece então levemente texturado, suave como algodão em rama.
Dir-se-ia que o trazemos vestido.
É qualquer coisa como isto, o que queremos.
Algo de que esse envolvimento fosse a imagem ou – melhor ainda -
simplesmente um caso muito concreto.
in A Porta de Duchamp.
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