quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano Novo - Drummond

Quem teve essa ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a trabalhar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um novo tempo - Marcos Valle e Nelson Motta

Hoje, é um novo dia de um novo tempo que começou
Nesses novos dias, mais alegrias serão de todos é só querer
Todos os nossos sonhos serão verdade, o futuro já começou
Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier
A festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier...

Delicadeza - Faccioli

"Ao te conhecer comecei a sonhar
e pouco a pouco fui desaprendendo o ritmo sempre tão veloz
das coisas palpáveis. "

in "Trocando em miúdos"

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Realidade - Fernanda Young

(...) O homem pode tudo, todas as pessoas podem fazer aquilo que bem quiserem.
Os limites, que impedem o homem de cometer erros,
são os mesmos que qualificam o que é errado, o que é impedido.
Como é o próprio homem quem cria essas leis,
pode derrubá-las com a facilidade de quem muda de idéia ou de roupa.
Não há regras naturais, há regras do jogo.
E o grande perigo que corre a humanidade
é perder o que resta do sentido maniqueísta de bem e mal.
Os instintos humanos são selvagens.
Uma vez despidos de limites morais, os homens se esfolarão uns aos outros.


in "vergonha dos Pés"

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Poema de Natal - Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Para refletir - Pablo Picasso


"Cansei de ser moderno,

quero ser terno..."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Anotações sem papel - Carpinejar

A barba avança independente do que deixe para trás.
Eu tive várias vidas mas não terminei nenhuma delas.
O que sei serve apenas para me duvidar.
Temos pouco tempo para nos entender, não entendo como sobra tempo para nos explicar. Deveríamos dar ao amor a mesma religião do ódio. Quem odeia vai toda hora visitar um nome.
A primeira infância não é a primeira morte. Há datas que Deus nos paga a conta.
Deus não chega com a dor, Deus é quando falta ar para rir.
Escolher é desafiar a si mesmo a excluir justamente o que gostaríamos de dizer.
Escrevo como quem mexe na horta. As unhas não lavam as mãos.
A neblina é um rio que anda de barco. O mar sempre devolve o que não conseguiu engolir.
A terra tem mais estômago.
Sinto pena das árvores que são encontradas dias depois de sua morte.
Elas cheiram os frutos que não germinaram. Não isolo o que vivi do que imaginei ter vivido.
A poesia é a desistência de explicar. Eu dormi mais do que as palavras sonharam.
A chuva vem para lermos a casa.
Intimidade é conversar na mesa de café e apoiar o cotovelo em farelos de pão.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Nulidade - Pessoa

“(...) Ah, mas como eu desejaria lançar ao menos numa alma alguma coisa de veneno,
de desassossego e de inquietação.
Isso consolar-me-ia um pouco da nulidade de acção em que vivo (...)
Mas vibra alguma alma com as minhas palavras?
Ouve-as alguém que não só eu?”


do Livro do Desassossego

Confiança - Nietzshe

Fiquei magoado,
não por me teres mentido,
mas por não poder voltar a acreditar-te.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Desejo e Espelho - Martha Medeiros

Uma amiga me diz que não suporta mais se olhar no espelho. Ela está se achando gorda, feia, desprezível. Antigamente, eu talvez dissesse a ela que está na hora de fazer uma dieta e dar uma ajeitada no visual, mas hoje em dia aconselho outra coisa: está na hora, isso sim, de trocar de espelho.
Ela está apenas um pouco acima do peso ideal, e feia não é de jeito nenhum. É uma mulher inteligente, divertida, bacana. O problema é que está totalmente focada no trabalho, não tem se relacionado com ninguém. Não namora. Não quer nem pensar em seduzir ou ser seduzida, fechou pra balanço. É é justamente este o espelho que está lhe faltando pra ver-se com olhos mais generosos.
A gente se apaixona por si próprio à medida que nos enxergamos através dos olhos dos outros. Isolados numa ilha – ou trancados num apartamento – a tendência é não enxergarmos grandes atrativos em nós. Mesmo sabendo que somos pessoas legais, quem confirma isso?
Ok, com a auto-estima em dia, não dependemos tanto assim da apreciação alheia. Mas ninguém consegue manter-se em alta por muito tempo sem comprovar que é amado, gostado. Em suma, desejado.
Todo ser humano necessita despertar desejo. Quando as pessoas nos olham e não nos diferenciam de uma cadeira, a coisa vai mal. Isso acontece muito naquela instituição, como é mesmo o nome? Casamento. Os dois seguem se amando, mas já estão há tanto tempo juntos que não faz mais diferença se a mulher embarangou ou se o marido perdeu os dois dentes da frente: “amo você de qualquer jeito, bem”. Ama, sem dúvida. Mas não nos enxerga mais.
É aí que mora o perigo. Homens e mulheres precisam de um espelho que lhes diga constantemente o quanto são interessantes e atraentes. Se o espelho rachou em casa e não reflete mais nada, das duas uma: ou a gente se entrega ao desleixo, ou vai buscar reflexos de si mesmo em outro alguém.
Conheço garotas muito mais gordas que minha amiga, e menos bonitas e inteligentes do que ela, mas que não sentem vergonha do próprio corpo, seguem no jogo da vida, ganhando mais do que perdendo. São bem amadas por amigos e namorados, portanto a imagem que têm delas mesmas é menos rigorosa. E acabam se tornando belas de verdade.

Egoísmo - José Saramago

"... ainda está por nascer o primeiro ser humano
desprovido daquela segunda pele
a qual chamamos egoísmo,
bem mais dura que a outra,
que por qualquer coisa sangra."


in "Ensaio sobre a cegueira"

Insensatez e inconsequência - José Saramago

"... é muito possível que a insensatez e a inconsequência são para os novos um dever,
para os velhos são um direito respeitável"

in "A caverna"

Literatura - Mia Couto

"O fascínio pelas histórias resulta dessa absoluta necessidade de brincar.
Como todos os animais caçadores carecemos dessa aprendizagem ritualizada.
Como um gato perante o novelo, assim estamos ante o texto que nos encanta."

O tempo - Mia Couto

"Quero pôr os tempos em sua mansa ordem,
conforme esperas e sofrências.
Mas as lembranças desobedecem,
entre a vontade de serem nada
e o gosto de me roubarem do presente.
Acendo a estória,
me apago a mim. "

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Girar o vidro do baleiro - Carpinejar

Somos o que pedimos ou o que deixamos de pedir?
Não tinha coragem em minha infância de pedir o que desejava, eu desejava o que vinha.
Poderia roçar meus olhos nas vitrines das lojas, mas não apontava e dizia:
- Quero agora! Não me envergonhava dos meus sonhos, justo por isso.
Meus sonhos aumentavam os brinquedos que recebia.
Não ganhava mesada, tinha direito a ficar com as moedas quando a mãe trocava de bolsa. Repartia com os irmãos em chicletes e balas para rodar o vidro do armazém.
Meu carrossel era girar o baleiro. Um pouco de nostalgia não fere a barba.
Meu filho completa cinco anos. Eu perguntei e perguntei o que ele queria.
Como de costume, replicou com um abraço nas pernas:
- Qualquer coisa, qualquer coisa tá bom.
Qualquer coisa que eu desse para ele estaria realmente bom.
Não estava fingindo com "não precisava".
Ou escondendo o que pretendia. Clipes coloridos, uma lupa, um carimbo, e ele se veria espelhado. Fui com ele olhar uma bicicleta. Já que não consegui ensinar a minha mulher, ensinaria a ele. Revistamos o shopping, até que ele ficou em dúvida entre duas.
O cansaço me agitava: - Escolhe logo!
Ele me indagou, suave: - Levo a mais barata.
A noção de que ele deve ajudar a família é maior do que seu desejo de ter tudo em seu quarto. Outra história, agora com meus sobrinhos. Joãozinho, 4, e Nana, 7,
pediram presentes aos seus pais. Nana gritou: Playstation II!
Joãozinho, com olhar de bolinha de gude, recitou baixinho para seus pés:
- Sementes para plantar arvorezinhas na chácara.
Ofertas cumpridas, até hoje o Playstation está parado no armário e Joãozinho plantou melancia, laranjeira e o diabo de flor durante uma semana, com a alegria escandalosa da bananeira.
Somos o que pedimos ou o que deixamos de pedir?
No amor, a ambição destrói a possibilidade de criar com pouco.
O luxo é uma espécie de esmola.
Por mais que se dê, menos se está se oferecendo do corpo.
Dar é subtrair a invenção.
A imaginação prefere a modéstia.
Amor não é para ocupar o tempo, mas desocupar.
Comprei muitas vezes um pacote faraônico para não precisar brincar e estar junto.
Algo para me dispensar de participar, que me isente da proximidade.
A compulsão de surpreender com presentes e jóias esconde uma avareza por dentro.
De algum modo, estamos dispensando a comoção acompanhada de uma música
ou da própria voz.
Estamos nos substituindo.
Um afeto inesperado, uma palavra espichada como colar,
uma meninice na hora de acordar correspondem ao apelo.
Criar escolhas pode ser mais prazeroso do que escolher.
Penso isso ao encostar na árvore que Joãozinho plantou,
com meu filho andando de bicicleta pelas lombas,
num entardecer de ferrugem dos morros.
De repente, nem vou escrever esse texto.
Encosto nas árvores para meu corpo crescer.

Palavras - José Saramago

"A vida é assim,
está cheia de palavras que não valem a pena,
ou que valeram e já não valem,
cada uma que ainda formos dizendo tirará o lugar a outra mais merecedora,
que o seria não tanto por si mesma,
mas pelas conseqüências de tê-la dito."

in "A caverna"

O amor - Tolstoi

"O verdadeiro amor não está nas palavras mas nas ações,
e só o amor pode conferir-lhe a verdadeira sabedoria".

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Resolução de problemas - Mark Twain





“Quando o único instrumento que voce tem é um martelo,
todo problema que aparece voce trata como um prego.”

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A dor - Florbela Espanca

"Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou …
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou..."

in Livro de Mágoas .

Provérbio Judaíco

"Cuida-te quando fazes chorar, uma mulher,
pois Deus conta as suas lágrimas...
A mulher foi feita da costela do homem
e não dos pés para ser pisada,
nem da cabeça para ser superior...
E sim do lado para ser igual,
debaixo do braço para ser protegida
e do lado do coração para ser amada!"

Fragmento - Caio F. Abreu

"Mas quando desvio meu olho do teu,
dentro de mim guardo sempre teu rosto
e sei que por escolha ou fatalidade,
não importa,
estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim (...)"

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Homem rosa, mulher azul - Carpinejar

O homem é ensinado a ser homem se opondo à mulher.
Tudo o que é de mulher não é do homem. Tudo o que é do homem não é da mulher.
Joga-se o menino contra as meninas, não são eles que não se dão bem,
são os pais e próximos que os diferenciam de modo ostensivo.
Os preconceitos são invisíveis e não menos duros.
Há brincadeiras para cada um dos sexos na escola.
Futebol é para meninos, bonecas para meninas.
Não poderia brincar de casinha,
que alguma professora já me dizia que meu lugar era no campinho.
Levar carrinho de bebê, então, nem se fala (como se o homem não pudesse exercitar a paternidade logo cedo e fosse exclusividade da garota).
Formam-se rodas, panelinhas e grupos por gênero, em que é aconselhável não se misturar.
Com o pretexto de evitar a malícia e fortalecer identidades, corta-se os cabelos da boca.
Segredo de homem, segredo de mulher. Menino mija de pé, menina mija sentada.
Desde o começo, o homem entende que para ser homem não pode ser mulher. Só isso.
Não ensinam o que é ser homem, ensinam o que não é ser homem.
Ele entende errado, entende a aparência de ser homem,
ao invés de entender que para ser homem deve ser com a mulher.
É incitado a se separar, a brigar, a teimar, a não pintar as unhas, a fazer programas diferentes,
a não gostar de lojas, a não chorar em público, a não conversar demais,
a não expor seus sentimentos, a ser forte e frio, a carregar peso, a brigar com os punhos.
Ser homem condicionou-se a uma oposição à mulher,
cristalizado na figura de adversário feminino.
Eu não podia jogar amarelinha porque não era coisa de homem.
Eu não podia jogar cinco marias porque não era coisa de homem.
Até dançar, não me caía bem. Não notamos, mas criamos homens destinados a odiar a mulher. Não para amar naturalmente a mulher.
Destinados a trapacear, a fingir, a mentir, a trair,
a fugir das verdades quando elas pedem uma mudança. O depois é o antes.
Foram criados para se esconder, para se separar,
para evitar os laços mais estreitos e a familiaridade dos costumes.
Formados para não se envolver.
Recebem advertência vitalícia e implícita de que não é possível se aproximar muito dos gostos e predileções femininas,
de que é preciso manter distância, sob a pena de colocar em risco sua masculinidade.
O homem tem dificuldades de se relacionar mais do que dificuldades de relacionamento.
Está sempre sendo julgado pela sua conduta.
Se altera seu figurino e anda mais à vontade, já começa o zunido de que trocou de sexo.
Aceita-se papéis misóginos sem perceber,
aceita-se que há apenas dois banheiros e duas vidas diferentes para entrar e seguir.
As fronteiras começam antes do nascimento, na separação do enxoval azul do rosa.
Desde quando o homem não é rosa e a mulher não é azul?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fico aqui - Pe. Fábio de Melo

"Fico aqui.
Quando posso, vou.
Mas, quando não vou,
dou um jeito de aprender a ficar."



in Cartas entre amigos


O melhor de mim - Paulo R Gaefke

Sofremos pelo que não temos, e muitas vezes,
pelo que acreditamos que era nosso,
e na verdade, nunca foi.
Sofremos, pela incerteza do amanhã
que não nos pertence,
mas que tentamos controlar.
Sofremos pelas amizades e afinidades
que tentamos dominar, possuir sem medidas,
e que se afastam de nós.
Sofremos pela doença que podemos ter,
pela gripe que pode virar bronquite, e nos abatemos.
Sofremos pelo medo do imponderável,
pelo que não podemos medir,
pelo que não vemos, mas as vezes, podemos ouvir,
e nos trancamos.
Sofremos pelas nossas faltas,
e nos abatemos com as dificuldades que criamos,
e estagnamos.
Por isso, as notas que não tiramos,
as provas que não passamos,
os amores que não vivemos, o abraço que perdemos,
os cadernos amarelados, os cheiros da infância,
a velha chupeta guardada ou perdida,
são doces lembranças, mas até nelas, sofremos.
Sofremos, porque não queremos nada simples,
nem simplesmente viver, nem simplesmente amar.
Temos medo de nos entregarmos
definitivamente ao amor,
medo de sofrer uma dor maior,
por isso, sofremos,
até pelo que não sabemos.
E hoje, sabendo que o sofrer é uma antecipação da dor que nem sempre viveremos,
vou procurar conquistar aquilo que realmente me cabe,
e se a dor me visitar, vai me encontrar mais forte,
porque tenho a exata medida de tudo o que já passei,
e sou o fruto maduro dessa árvore chamada, vida.

Minhas pálpebras são potes de sorvete - Carpinejar

Pense nos filhos e será mais homem. Eu talvez não amadurecesse por mim,
amadureci para criar meus filhos. Amadureci porque era jovem, tinha 20 anos,
e não podia deixar minha menina sem um pai. Não poderia me deixar sem um filho.
Perdi minha adolescência, mas ganhei todas as fases da vida dela.
Na época, amigos falavam que era loucura, que iria estragar minha vida profissional,
que sacrificaria as festas, os namoros e a juventude, anularia as possibilidades de viajar,
o espaço na literatura. Fui pai cedo antes do diploma. Fui pai cedo antes do casamento.
Fui pai cedo antes de trabalhar. Mas eu me formei, eu trabalhei justamente porque era pai. Esforçava-me para não dormir nas aulas, fragilizado por andar pelos corredores a cuidar da insônia e cólicas da pequena. Não alcancei as melhores notas, porém não comemorei sozinho.
A cadeira de balanço foi minha cama.
Mariana no pescoço como minha manta de inverno, meu agasalho.
O cheiro doce dos cabelos - se eu procurar em minha boca, ainda o encontro.
Ela não complicou minha vida, ela apressou minha vida.
Ela não me impediu de fazer nada, ela me ajudou a fazer tudo o que adiava.
Tantas vezes chorei e tantas vezes os filhos se anteciparam
(seus dedos são pálpebras mais rápidas) e me fizeram rir do desespero.
Comeram minhas lágrimas com colherinhas, raspando o sorvete no pote.
Não sou o que vivi. Sou o que ouvi.
Sou suas vozes subindo as escadas, pulando em minha cama de manhãzinha.
Sem eles, não teria algo para contar, não teria como me começar.
Mariana me tornou pai do Vicente, quando ele nasceu 8 anos depois.
Recordo o jeito que fatiava os cabelos das crianças, pondo as franjas para o lado esquerdo, repetindo o gesto que odiava de minha mãe. E como amo o que odeio.
Recordo de minha mãe colocando a comida primeiro em seu punho, o feijão era seu perfume de festa, e eu fazendo o mesmo com a mamadeira para testar a temperatura do leite.
Eu sou mais homem porque meus punhos são de leite. Fermentaram as veias.
Fenderam outras linhas do destino.
Emagreceram as mãos para que segurasse com mais firmeza a água.
Recordo do meu filho na garupa, equilibrando seu peso em meus ouvidos.
Ele esticava as orelhas como seus retrovisores.
Eu sou mais homem porque ele me guiava.
Passei a separar a roupa após nascerem. Antes, amontoava as cores.
Criei as gavetas das camisas, dos cueiros, dos blusões, das calças.
Criei as gavetas das fotos, dos documentos, dos brinquedos, dos bonecos.
Criei as gavetas dos meus joelhos.
Hoje me apanho cortando a carne em pedacinhos para mim.
Como se fosse transportar para o prato de um dos meus filhos.
Eu demoro mais na mesa. Demoro mais para me levantar.
Sou mais homem devagar, sou mais filho.


Carpinejar fez essa crônica para Mariana e Vicente seus filhos, em abril/2006.

Hoje não - Cáh Morandi

Pode ser um outro dia qualquer
desde que não seja hoje...
Me recolho em algum canto
onde tudo que quero
é beber um pouco de solidão
onde posso ficar de pijama
passar o dia na cama
esperando entardecer
vir um novo sol
que possa me alcançar
e então venha,
mas agora não,
porque estou em mim-lá dentro,
caçando-me
perdendo
e me encontrando...
aos poucos me preparando
para que você possa vir...

Sobre verdades e amor - Cáh Morandi

O amor nunca vem antes, não há oração, coração ou simpatia para que ele se anteceda.
Vencer a nós mesmos, vencer a própria pressa, suportar e decifrar o descaso e descanso da hora. Esperar. Esperar como se não tivessemos urgência,
esperar como se a espera fosse o último motivo de não ir para frente.
O amor nunca vem antes.
Nunca antes da paixão, nunca antes da primeira oportunidade para pular do barco,
nunca antes de conhecer o outro tão fundo a ponto de desistir.
O sentimento seleciona ou anula,
e entre um sim ou um não a linha é tão tênue e ao mesmo tempo um enorme abismo.
Sim ou não. Uma escolha rende a história de uma vida, ou de duas.
Escolher quando a chance de ser escolhido é bem maior.
O amor nunca vem antes...
sempre virá depois do que pensamos ser amor.

Questione-se - Robin S Sharma

"A maior parte das pessoas passa mais tempo a idealizar as suas férias de Verão
do que a planejar a sua vida.
Reflicta bem sobre a sua existência.
Pergunte a si próprio:
Como é que devo viver?
Interrogue-se sobre o destino que lhe está reservado,
sobre as coisas que não continuará a tolerar na sua vida
e determine os padrões de excelência que passará a exigir de si próprio."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O sofrimento - Robin S Sharma

"É absolutamente compreensível que o sofrimento não nos agrade quando nos bate à porta,
mas a verdade é que nos faz muito bem:
racha a concha que reveste o nosso coração
e despoja-nos das mentiras a que nos agarrámos no que respeita à pessoa que somos,
à razão porque estamos neste mundo
e ao modo como este nosso mundo extraordinário funciona realmente."

Encruzilhada - Robin S Sharma

Há momentos na vida que temos de parar e pensar
se o rumo que esta está a tomar é aquele que queremos para nós...
se constatamos que este rumo não é o que pretendemos o que podemos fazer?
Há vários caminhos a tomar:
podemo-nos resignar e continuar com a mesma vidinha de sempre;
podemos começar a lutar para voltarmos ao rumo pretendido;
também podemos parar, traçar novos objectivos, novas metas e irmos à luta...
Vai haver sempre encruzilhadas na nossa vida mas cabe a nós e apenas a nós,
saber qual o rumo que queremos ou que devemos tomar...
a vida é nossa e não podemos delegar as nossas decisões aos outros...
boas ou más são as nossas decisões...
Há que ter em conta que tudo acontece por uma razão
e que só vivemos o que é para nós
e que por vezes é preciso reformular metas e objectivos porque tudo muda,
e o que era bom para nós a algum tempo atrás pode não servir de nada agora...

Seus valores - Robin S Sharma

"Concentre-se no restabelecimento da relação consigo mesmo.
Trate de se familiarizar com os seus valores mais genuínos
e arreigados e com as suas preferências e prioridades,
ou seja, com tudo aquilo que a sua consciência lhe diz que são os valores mais nobres
- e não com aquilo que os outros lhe ensinaram que era mais importante.
E nunca se esqueça de que não pode dar aquilo que não possui.
Para poder amar os seus semelhantes,
terá de começar por se amar a si próprio."

Altar particular - Maria Gadú

Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular
Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal
E então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós
Depois, que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós
Se enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser
Ou então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faço melhor do que lhe parecer
Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor
Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio esperando a resposta
ao que chamo de amor ...

Amor, rosas e espinhos - Pe. Fábio de Melo

A vida requer cuidado.
Os amores tambem.
Flores e espinhos são belezas que se dão juntas.
Não queira uma só, elas não sabem viver sozinhas...
Quem quizer levar a rosa para sua vida,
terá de saber que com elas vão inumeros espinhos.
Não se preocupe a beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos...

Seja você mesmo - Pe. Fábio de Melo

A maior prisão que podemos ter na vida é aquela quando a gente descobre que estamos sendo não aquilo que somos, mas o que o outro gostaria que fôssemos.
Geralmente quando a gente começa a viver muito em torno do que o outro gostaria que a gente fosse, é que a gente tá muito mais preocupado com o que o outro acha sobre nós,
do que necessariamente nós sabemos sobre nós mesmos.
O que me seduz em Jesus é quando eu descubro que nEle havia uma capacidade imensa de olhar dentro dos olhos e fazer que aquele que era olhado reconhecer-se plenamente
e olhar-se com sinceridade.
Durante muito tempo eu fiquei preocupado com o que os outros achavam ao meu respeito.
Mas hoje, o que os outros acham de mim muito pouco me importa
[a não ser que sejam pessoas que me amam],
porque a minha salvação não depende do que os outros acham de mim,
mas do que Deus sabe ao meu respeito.

Amizade - Sócrates

Para conseguir a amizade de uma pessoa digna
é preciso desenvolvermos em nós mesmos
as qualidades que naquela admiramos.

Para refletir - Walt Whitman

"Aprendi que é suficiente estar com aqueles de quem gosto."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Espelho - Silvia Plath

Sou prateado e exato.
Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada.
Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração.
Mas ele falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.
Sou um lago, agora.
Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela.
Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um peixe terrível.

Vontade - Paderewsky

"Querer vencer significa já ter percorrido metade do caminho."

Solidão - Benjamin Hoff

"Tal como o silêncio após o ruído,
ou a água pura e fresca num dia quente e abafado,
o Vazio limpa a mente desarrumada e recarrega as baterias da energia espiritual.
No entanto, muitas pessoas têm medo do Vazio,
porque lhes recorda a solidão.
Parece que tem que ser tudo preenchido
- as agendas, as encostas, os baldios -,
mas é quando todos os espaços estão preenchidos
que realmente começa a Solidão."


in "O Tao do Pooh"

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Perfeição - Stephenie Meyer

Não tenha medo - murmurei. - Nós pertencemos um ao outro.
De repente fui dominada pela verdade de minhas palavras.
Aquele momento era tão perfeito, tão correto, que não havia dúvidas.

in Amanhecer

O amor no colo - Carpinejar

A dor não pede compreensão, pede respeito.
Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.
Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento.
Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado.
Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar,
acontece com todo mundo.
Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.
Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro.
O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.
Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos.
É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia.
É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.
Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure".
A despedida não é lugar para poesia. Haverá uma estranha compaixão pelo passado,
a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"
Haverá a indignação como última esperança.
Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.
Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher,
não para se distanciar dela.
Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.
Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.
Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.
Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças.
Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.
Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas.
Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado,
ouvindo o que não se quer escutar.
Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava.
Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.
Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo. Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.
O médico colocará o filho morto no colo materno.
É cruel e - ao mesmo tempo - necessário.
Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo.
Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura.
Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram,
que ela tentou trazê-lo à tona.
Que possa se afastar da promessa de uma vida,
imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.
Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz.
Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Leia sua vida - Augusto Cury

A maior aventura de um ser humano é viajar,
e a maior viagem que alguém pode empreender
é para dentro de si mesmo.
E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro,
pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros,
mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas
e descobrir o que as palavras não disseram...

Insensatez - Simone de Beauvoir

Renunciar ao amor parecia-me tão insensato
como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade.

Coragem - Mark Twain


Coragem é a resistência ao medo,

domínio do medo,

e não a ausência do medo.

Geração Egoísta ? Não; generosa... - Carpinejar

Minha mãe, 69 anos, dizia que nunca mandaria um e-mail, já era tarde para aprender.
Meu pai da mesma idade confessou que continuaria a escrever seus poemas à máquina,
já era tarde para mudar.
A mesma mãe chega agora a me pedir que entre no MSN para conversar com ela.
Quase tive um troço ao receber suas carinhas amarelas na caixa de diálogo.
Pode? O mesmo pai passa dias escolhendo a letra de seu livro no computador,
até faz as capas dos seus livros e monta imagens.
Pode? Quem ensinou eles não fui eu, nem meus irmãos.
Foram meus filhos ou filhos da Carla, seus netos.
Ficava louco de receio de que a tecnologia aprisionasse as crianças e as convertesse em protótipos egoístas.
A tecnologia aproximou a família. Os pequenos são nossos professores. Aprendem com os colegas e repassam seus conhecimentos com um destemor invejável.
Eles não querem seguir à frente, são generosos, vêm nos buscar para acompanhá-los.
Há uma bondade em não deixar ninguém sem saber menos.
Uma troca que não existia antes.
Por exemplo, eu não aprendi a datilografar em casa.
Mandaram-me para um curso das regras da ABNT.
Sovei as teclas durante seis meses, para receber um diploma aos 15 anos.
Hoje eu ensino meu filho de cinco anos a teclar,
sem a necessidade de sofrer com a histeria de um compromisso.
A tecnologia é lazer aos filhos, prazer, extensão dos dedos, não trabalho e sacrifício como eu e meus pais enxergavam o assunto, com pavor dos cursos e dos testes.
Essa é a diferença: eles estão brincando, nós estávamos projetando uma carreira.
Quem dará mais certo? Eles, óbvio.
Não é a geração do constrangimento, é a geração do desembaraço.
Comunica-se mais cedo, utiliza o mouse como se fosse a corda de um pião,
define um jeito de economizar dentro das opções da rede.
Filhos são download gratuito.
Quem me enxerga de I-Pod na rua pode acreditar que sou malandro.
Um careca fazendo mímica na rua.
Mas não pense que baixei sozinho as músicas em meu aparelho.
Minha filha Mariana, 14 anos, me ajudou a instalar o programa e escolheu boa parte do repertório. O único inconveniente são as músicas. Meus ouvidos estão plugados nos seus gostos. Temo até mostrar os headphones para terceiros. Vão pensar que estou em crise de meia-idade. Mas como os filhos nos ensinam os macetes e os acessos, entendemos o que gostam,
o que admiram, o que querem. É mais fácil de orientar.
Não é mais cada um em seu quarto, é o quarto conectado a todos os quartos.
Já sei a gíria do adolescente, já sei toda a programação do Discovery Kids.
Sento para assistir desenhos com o Vicente, comento, pesco o que ele está pescando, percebo os momentos de sua curiosidade e o que o faz tremer de rir.
Ainda ele corrige a pronúncia de meu inglês. Pode?
Não há horários pré-estabelecidos, há respeito pela individualidade.
Assim como meu futebol, o seriado ou a animação de meus filhos são sagrados.
Não é tudo ao mesmo tempo, mas todos ao mesmo tempo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Caminhos do mundo - José Saramago


"Mesmo que a rota da minha vida
me conduza a uma estrela,
nem por isso fui dispensado
de percorrer os caminhos do mundo"