quarta-feira, 31 de março de 2010

1000 postagens !!!

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quem será o 100 ?

Esperança - Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

in livro "Nova Antologia Poética" pág. 118.

Alma Errada - Mário Quintana


Há coisas que a minha alma,
já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há… e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperadame deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda.
(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…

Responsabilidade - Ana Jácomo

Cansei de me flagrar em circunstâncias em que eu jurava que havia ocorrido uma falha do cenógrafo na montagem do ambiente: tudo o mais poderia estar no lugar correto, mas não era para eu estar ali. Aí era um tal de listar os supostos culpados, lamentar a má sorte, um blablablá triste toda vida, sob o fundo musical de “Ó, Deus, como sou infeliz”.
Muitas cenas depois, porque só o tempo é capaz de nos dar olhos que veem um pouco além das aparências, comecei a encaixar as peças daquelas tais circunstâncias e a perceber que estive exatamente onde eu me coloquei. Nem um centímetro a mais nem a menos.
Eram os meus sentimentos, minhas dores pendentes de cura, minha resistência à mudança, minhas crenças equivocadas sobre mim, que me atraíam para aqueles cenários. Peças encaixadas, descobri que, no fim das contas, a roteirista o tempo todo era eu.
Se a história não me agrada, preciso aprender a reescrevê-la até que se torne parecida com a ideia que passa pelo meu coração.
O roteiro só muda quando eu assumo a minha responsabilidade por ele e me trabalho para ser capaz de modificá-lo. Não adianta culpar o cenógrafo.

Silêncio - Oscar Wilde

"Se você não consegue entender o meu silêncio,
de nada irá adiantar as palavras,
pois é no silêncio das minhas palavras
que estão todos os meus maiores sentimentos."

Originalidade - Dostoiévski

" Nada é mais fácil para essa gente comum, de inteligência restrita,
do que se mostrar original e mesmo exceção, e folgar com essa ilusão,
nunca chegando a perceber o equívoco.
Basta a muita de nossas mocinhas cortarem o cabelo de certo modo
e usarem óculos azuis e se cognominarem de niilistas, para ficarem de vez persuadidas de que, com isso só, obtiveram automaticamente convicções próprias.
Basta a certos cavalheiros sentir o mais leve prurido de qualquer emoção bondosa e humanitária para que imediatamente fiquem persuadidos de que ninguém mais sente o que eles sentiram, e de que formaram a vanguarda da cultura.
Basta a certos indivíduos assimilar uma idéia expressa por outrem, ou ler qualquer página solta, para imediatamente acreditarem que essa é sua a opinião pessoal
espontaneamente brotada do seu cérebro."


in "O Idiota"

terça-feira, 30 de março de 2010

Para refletir - Blaise Pascal




"Nossa natureza reside no movimento,

a calma completa é a morte."

Esquadros - Adriana Calcanhoto

Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de almodóvar
Cores de Frida kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Ah! Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto pra quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

segunda-feira, 29 de março de 2010

Para refletir - William Shakespeare



"Todo mundo é capaz de
dominar uma dor,

exceto quem a sente."

Antes de ser mãe - Silvia Schmidt

Antes de ser mãe,
eu fazia e comia os alimentos ainda quentes.
Eu não tinha roupas manchadas,
tinha calmas conversas ao telefone.

Antes de ser mãe,
eu dormia o quanto eu queria,
Nunca me preocupava com a hora de ir para a cama.
Eu não me esquecia de escovar os cabelos e os dentes...

Antes de ser mãe,
eu limpava minha casa todo dia.
Eu não tropeçava em brinquedos
e nem pensava em canções de ninar.

Antes de ser mãe,
eu não me preocupava:
Se minhas plantas eram venenosas ou não.
Imunizações e vacinas então, eram coisas em que eu não pensava.

Antes de ser mãe,
ninguém vomitou e nem fez xixi em mim,
Nem me beliscou sem nenhum cuidado, com dedinhos de unhas finas.

Antes de ser mãe,
eu tinha controle sobre a minha mente,
Meus pensamentos, meu corpo e meus sentimentos, e dormia a noite toda.

Antes de ser mãe,
eu nunca tive que segurar uma criança chorando,
para que médicos pudessem fazer testes ou aplicar injeções.
Eu nunca chorei olhando pequeninos olhos que choravam.
Nunca fiquei gloriosamente feliz com uma simples risadinha.
Nem fiquei sentada horas e horas olhando um bebê dormindo.

Antes de ser mãe,
eu nunca segurei uma criança, só por não querer afastar meu corpo do dela.
Eu nunca senti meu coração se despedaçar,
quando não pude estancar uma dor.
Nunca imaginei que uma coisinha tão pequenina,
pudesse mudar tanto a minha vida e que pudesse amar alguém tanto assim.
E não sabia que eu adoraria ser mãe.

Antes de ser mãe,
eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora do meu próprio corpo.
Não conhecia a felicidade de alimentar um bebê faminto.
Não conhecia esse laço que existe entre a mãe e a sua criança.
E não imaginava que algo tão pequenino, pudesse fazer-me sentir tão importante.

Antes de ser mãe,
eu nunca me levantei à noite toda , cada 10 minutos,
para me certificar de que tudo estava bem.
Nunca pude imaginar o calor, a alegria, o amor, a dor e a satisfação de ser uma mãe.
Eu não sabia que era capaz de ter sentimentos tão fortes.
Por tudo e, apesar de tudo, obrigada Deus,
Por eu ser agora um alguém tão frágil e tão forte ao mesmo tempo.

Obrigada meu Deus,
por permitir-me ser Mãe!

domingo, 28 de março de 2010

De mãos dadas - Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria,
o tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.

Prudência - Augusto Cury

Se você não tem segurança para falar de algo tão próximo e visível,
não fale convictamente sobre algo tão distante e intangível.
Não é sensato.


in "O Futuro da Humanidade"

sábado, 27 de março de 2010

Tempo - Carlos Drummond de Andrade

"Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,
entre a desmistificação e a expectativa,
tornamos a acreditar, a ser bons meninos,
e como bons meninos reclamamos
a graça dos presentes coloridos.Nossa idade - velho ou moço - pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos
e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza,a
exata beleza que vem dos gestos espontâneos
e do profundo instinto de subsistir
enquanto as coisas ao redor se derretem e somemcomo nuvens errantes no universo estávelProsseguimos.Reinauguramos.Abrimos os olhos guloso
a um sol diferente que nos acorda para os
descobrimentos
Esta é a magia do tempo
Esta é a colheita particular..."

Esquece - Mário Quintana

"Fere de leve a frase ...
e esquece...
Nada convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita "

Intimidade - José Saramago

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

Existência - Lya Luft

Deus,
eu faço parte do teu gado:
esse que confinas em sonho e paixão
e às vezes em terrível liberdade.
Sou, como todos, marcada neste flanco
pelo susto da beleza, pelo terror da perda
e pela funda chaga dessa arte
em que pretendo segurar o mundo.
No fundo,
Deus,
eu faço parte da manada
que corre para o impossível,
vasto povo desencontrado a quem tanges,
ignoras ou contornas com teu olhar absorto.
Deus,
eu faço parte do teu gado estranhamente humano,
marcado para correr, amar, morrer
querendo colo, explicação, perdão
e permanência.

Mudando - Carlos Drummond de Andrade

"O problema não é inventar.
É ser inventado hora após hora
e nunca ficar pronta
nossa edição convincente.

in "Corpo"

sexta-feira, 26 de março de 2010

Poesia na Feira 1 - Fernando Pessoa

Flash de um Stand de Móveis da Movelsul de Bento Gonçalves (RS),
Fernando Pessoa inspirando sonhos !

Poesia na Feira 2 - Portinari

Na Movelsul/2010 - Bento Gonçalves (RS) esta semana.
Portinari em imagens e palavras !

Poesia na Feira 3 - Clarice Lispector

Flash da Movelsul 2010 - Bento Gonçalves (RS) nesta semana,
muitos stands com poesias e trechos de autores renomados.
É a literatura se popularizando !

Autenticidade - Leila Diniz


"Não sou muito pela moda.

Sou mais pela sinceridade."

Felicidade - Pe. Fábio de Melo

'A felicidade é um susto.
Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas.
Chega sem chegar, insinua mais que propõe...
Felicidade é animal arisco.
Tem que ser admirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela.
Vê-la solta e livre no campo,
correndo com sua velocidade tão elegante é uma sublime forma de possuí-la'

Segredos - Paul Tournier


" Nada nos deixa tão solitários quanto os nossos segredos."

segunda-feira, 22 de março de 2010

Felicidade - Tati Bernardi

"A felicidade é simples,
e quando você descobre isso
ela deixa de ser uma espera e passa a ser um minuto, um segundo.
E é de minutos e segundos que se faz a vida."

Liberdade - Ana Jácomo

'Liberdade é como saborear um passeio de bicicleta
sem precisar apostar corrida com ninguém.
Não temos que ter essa ou aquela velocidade.
Apenas pedalar.
No nosso ritmo.'

sexta-feira, 19 de março de 2010

Acácia ou eucalipto - Carpinejar

Não adianta ser fiel ao outro se a gente não é fiel a si.
Mas não é simples assim: arenoso descobrir a nossa própria natureza e aceitá-la.
Conhecer-me significa também não gostar daquilo que sou
e ter que passar o resto da vida ao meu lado.
Até hoje eu só me amei por amor platônico. Nunca tive coragem de me aproximar.
Escrevia cartas, fazia elogios, me criticava, mas sempre controlado, contido, parava quando me julgava ameaçado.Não subestimo a força do engano.
Talvez seja leal ao que meu pai queria ou ao que a minha mãe desejava ou ao que jurei ser a melhor solução para conseguir aprovação da turma.
Quem diz que não gastei uma vida inteira para atender aos anseios dos demais e ainda não descobri as minhas ambições.
Quem diz que não segui escrevendo porque um dia a maldita professora da 4ª série me chamou de escritor e não gostaria de decepcioná-la, muito menos ofender sua intuição.
Minha voz não é aquela que eu escuto. Meu rosto no espelho não é aquele que as pessoas enxergam. Meu beijo não está na minha boca.Posso ser generoso pelo egoísmo. Posso ser amoroso pela tirania. Posso ser educado pela vergonha.
Vê só o quanto uma virtude esconde uma maldade.
Eu sou o resultado ou a origem daquilo que cumpro?
O que tem peso maior: minha vontade ou o ato?
Ao me doar para uma mulher, não desfruto de condições para prometer coisa nenhuma,
pois nem defini o que eu mesmo me ofereço.
De repente, vou me trair e ser fiel no casamento. Ou trair uma relação e ser fiel a mim.
Antes deveria cuidar de ser monogâmico comigo.
Viajava pelo interior do Rio Grande do Sul, com o rosto cochilando na vidraça do ônibus.
De música de fundo, escutava histórias de boiadeiros sobre acácia e o eucalipto, um grande dilema das plantações. Ao escolher a acácia, é natural deixar o gado debaixo das árvores.
Ao plantar eucalipto, não haverá terreno propício ao pasto, ele é arrogante, absorve a água dos arredores, elimina a concorrência e suga a terra com gula.
Diante do impasse, logo problematizei: sou acácia ou eucalipto?
A acácia se oferece inteira, é mais familiar, caseira, procura um ideal de família e casa, transmuda-se em telhado e alimento aos animais.
É recomendada pela sua renúncia, admirada pelo sacrifício voluntarioso.
Quanto mais se anula mais aparece. Ampara o amadurecimento do conjunto, socorre carências. Em compensação, dura menos, de 7 a 10 anos.
E não sobe muito, tem uma altura própria para recolher as crianças em seus galhos.
Ela abdica de grandes vôos para acompanhar de perto os passos em sua folhagem.
O eucalipto é individualista, confiante, não se afeiçoa às carências do lugar, segue sozinho,
desafia os próximos a obedecer seu ritmo, não irá recuar para confortar o solo e os bichos.
Usa o que precisa, aproveita o contexto e se despede para o céu.
Atinge uma altura muito superior à acácia e dura de 25 a 30 anos.
Porta-se com o descaso de estrangeiro, como realmente é; um artista do vento,
flautista das folhas, disposto a render um espetáculo e espalhar suas raízes para atrapalhar a soberania das pedras.
Previsível que todo mundo afirmará que é acácia.
Para não frustrar a expectativa amorosa de entrega incondicional.
Alguns, como eu, tratarão de pensar que são as duas opções, mas não é verdadeiro,
tenho que escolher. Somente a renúncia permitirá que valorize o que ficou.
No momento em que acumulo, não sou nada, não devo nada, não me é exigido nada.
Sequer posso me trair.

Liberdade - Carpinejar


"Liberdade na vida
é ter um amor
para se prender "

quinta-feira, 18 de março de 2010

Criatividade - Eugene Delacroix

"O que move os homens geniais não são as novas idéias,
mas a sua obsessão pela idéia de o que já foi dito ainda não é suficiente".

quarta-feira, 17 de março de 2010

Falta - Machado de Assis

Se só me faltassem os outros, vá,
um homem se consola mais ou menos das pessoas que perde,
mas falto eu mesmo,
e essa lacuna é tudo.


in Dom Casmurro

terça-feira, 16 de março de 2010

Os nobres sentimentos - Danusa Leão

"Desde a mais tenra infância, fomos ensinados a refrear certos sentimentos.
Era feio ter inveja, raiva, ódio, e por aí vai. Mas será mesmo?
E quem é a santa que só tem no coração bondades e caridades?
Querendo ou não, os sentimentos – bons e maus – surgem,
mas nos ensinaram que os piores devem ser afastados em nome já esqueci de quê.
E como fingir que eles não existem, como ignorar o que está dentro do peito?
Que tal tentar conviver com eles reconhecendo que somos apenas pessoas normais,
para o mal e para o bem?
Digamos que sua grande amiga seja maravilhosa, tenha 10 centímetros a mais do que você e 10 quilos a menos. Além disso, é charmosa, inteligente, simpática e generosa – o que, aliás, não é nenhuma vantagem, com tantas qualidades – e consegue seduzir, sem fazer o menor esforço, homens, mulheres e crianças. Que raiva, que inveja. Fazer o quê?
Em primeiro lugar, reconhecer o que está sentindo e as razões desses sentimentos.
Não será preciso ir longe a ponto de dizer: “Eu te odeio porque você é mais bonita do que eu”. Mas, quando estiver sozinha, pode ficar com toda a raiva do mundo e odiá-la com todas as forças do seu coração – para aliviar o peito e não ter um infarto; isso ajuda a passar.
E, quando adorar uma pessoa, deve também ir fundo e dizer que gosta sem nenhum pudor,
pois gostar e fingir indiferença não tem a menor graça.
Já reparou como, para certas pessoas, é difícil elogiar?
Quem escolher viver honestamente todos os seus sentimentos ai perder alguns amigos, mas,
em compensação, os que ficarem vão ser para sempre.
De que adianta o telefone tocar o dia inteiro se é preciso fingir que é indiferente para ser querida, para ter com quem ir à praia?
Quando tiver vontade de torcer o pescoço de seu filho adorado – porque isso às vezes acontece –, permita-se reconhecer e, se puder, diga a alguém – uma amiga, o padre ou o analista –
quanto gostaria, naquele momento, de esganar a carne da sua carne e o sangue do seu sangue. Depois que a raiva passar, diga a ele, que vai achar muita graça.
Assim, você estará abrindo para ele a possibilidade de lhe dizer um dia a mesma coisa,
o que vai ser maravilhoso para a amizade de vocês.
Porque entre mãe e filho, além do amor, se tiver também amizade, é a melhor coisa do mundo.
E convém que ele saiba que, quanto mais próximas as pessoas, mais ocasiões e razões temos para amá-las ou odiá-las, e que isso é normal (e não deve trazer culpas).
Como é bom falar mal de uma pessoa, dizer com carinho que ela não vale nada e terminar confessando que é exatamente por isso que é louca por ela.
Quando se ouve uma declaração de amizade dessas, nunca mais se esquece,
e ser especial para alguém é tudo que se quer.
E mais: sofrer, chorar, rir, abraçar, beijar, passar noites em claro,
de tanta felicidade ou de tanto sofrimento, acordar um dia achando que o mundo é todo seu
e no outro não conseguir nem se levantar da cama de tanta tristeza sem nenhum motivo
– é isso que diferencia uma vida plena e rica de outra morna e medíocre.
Dinheiro se economiza, mas emoções, sejam de felicidade ou de tristeza,
de amor ou de raiva, nunca.
Vá sempre fundo – a não ser que você esteja na vida a passeio, o que é uma escolha;
uma triste escolha, aliás.
Porque todos os sentimentos são nobres – inclusive os piores."

Remorso - Mário Quintana

" Há noites que eu não posso dormir de remorso
por tudo o que eu deixei de cometer..."

segunda-feira, 15 de março de 2010

Maneira de amar - Osho

"O rio passa ao lado de uma árvore,
cumprimenta-a, alimenta-a, dá-lhe água...
e vai em frente, dançando.
Ele não se prende à árvore.
A árvore deixa cair suas flores sobre o rio em profunda gratidão,
e o rio segue em frente.
O vento chega, dança ao redor da árvore e segue em frente.
E a árvore empresta o seu perfume ao vento...
Se a humanidade crescesse, amadurecesse,
essa seria a maneira de amar."

Dedução - Vladimir Maiakóvski

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo firme,
fiel e verdadeiramente.

sábado, 13 de março de 2010

Para refletir ... - Viviane Mosé

A palavra é uma roupa que a gente veste.
Uns gostam de palavras curtas.
Outros usam roupa em excesso.
Existem os que jogam palavra fora.
Pior são os que usam em desalinho.
Alguns usam palavras raras.
Poucos ostentam caras.
Tem quem nunca troca.
Tem quem usa a dos outros.
A maioria não sabe o que veste.
Alguns sabem e fingem que não.
E tem quem nunca usa a roupa certa pra ocasião.
Tem os que se ajeitam bem com poucas peças.
Outros se enrolam em um vocabulário de muitas.
Tem gente que estraga tudo que usa.
E você... com quais palavras você se despe ...



in “ Toda palavra”




Nós e os outros - Mark a Baker

Ser capaz de enfrentar os problemas
não é o mesmo que resolvê-los
As pessoas são criaturas dependentes,
precisamos dos outros para sermos completos.
A identidade do ser humano é uma questão do coração.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Presente - Lya Luft

O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não menos ardor,
a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem —
retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços,
mas o sonho interminável das sereias.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mudanças - Ana Jácomo

Quando nos dedicamos, com o coração, à busca do autoconhecimento,
é inevitável que chegue um instante
em que algumas mentiras que contávamos para nós mesmos passem a não funcionar mais.
Os disfarces até então utilizados para fortalecer o nosso autoengano já não nos servem.
Inábeis com a paisagem aos poucos revelada,
às vezes ainda tentamos nos apegar a alguma coisa que possa encobrir a nossa lucidez, embaraçados que costumamos ser com as novidades,
por mais libertadoras que sejam.
É em vão.
Impossível devolver a linha ao novelo depois que a consciência já teceu novos caminhos.
Existem portas que se desmancham após serem atravessadas,
como sonhos que se dissolvem ao acordarmos.
Não há como retornar ao lugar onde a nossa vida dormia antes de cruzá-las.
Da estreiteza à expansão.
Da semente à flor.
Do casulo às asas, ensinam as borboletas.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Aqui onde se espera - Fernando Pessoa

Aqui onde se espera
- Sossego, só sossego -
Isso que outrora era,

Aqui onde, dormindo,
-Sossego, só sossego-
Se sente a noite vindo,

E nada importaria
-Sossego, só sossego-
Que fosse antes o dia,

Aqui, aqui estarei
-Sossego, só sossego -
Como no exílio um rei,

Gozando da ventura
- Sossego, só sossego -
De não ter a amargura

De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...

Que mais quer quem descansa
- Sossego, só sossego -
Da dor e da esperança,

Que ter a negação
- Sossego, só sossego -
De todo o coração ?

in 'Cancioneiro'

P.S. - Dedico este poema lindo do Pessoa a minha amiga querida Marli, que nos deixou neste dia, que descanse em PAZ e tenha o tão sonhado sossego...

terça-feira, 9 de março de 2010

Pessoas interessantes - Martha Medeiros

"Pessoas com vidas interessantes não tem frescuras.
Elas trocam de cidade.
Investem em projetos sem garantia.
Interessam-se por gente que é o oposto delas.
Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram.
Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto.
Começam do zero inúmeras vezes.
Não se assustam com a passagem do tempo.
Sobem no palco, tosam o cabelo, compram passagem só de ida."

Olhos - Dolores D.Rio

Desde que uma mulher tenha brilho nos olhos,
nenhum homem irá reparar se ela tem rugas em volta deles.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lembrete - Flora Figueiredo

"Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez."

Notícias - Rita Apoena

"Não é que o mundo seja só ruim e triste.
É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais.
Quando uma pena flutua no ar por oito segundos ou a menina abraça o seu grande amigo, nenhum jornalista escreve a respeito.
Só os poetas o fazem."

Amigo - Citação Bíblica

"Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão"

Provérbios 17.17

quinta-feira, 4 de março de 2010

Conhecimentos - Arthur Schopenhauer

A mais rica biblioteca, quando desorganizada,
não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada.
Da mesma maneira, uma grande quantidade de conhecimentos,
quando não foi elaborada por um pensamento próprio,
tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada,
que, no entanto, foi devidamente assimilada.
Pois é apenas por meio da combinação ampla do que se sabe,
por meio da comparação de cada verdade com todas as outras,
que uma pessoa se apropria de seu próprio saber e o domina.


in “ A arte de escrever”

A verdade - Elizabeth Gilbert

"A busca da verdade não é para qualquer um.
Nem mesmo durante essa nossa época em que tudo é para todo mundo."

in Comer, rezar, amar

terça-feira, 2 de março de 2010

Dizer "sim", dizer "não" - Lya Luft

A história mais difícil de escrever é a nossa própria, complexa, obscura, inocente ou perversa – bem mais do que são as narrativas ficcionais.
Brinquei muito tempo com a idéia de dizer “sim” ou “não” a nós mesmos, aos outros,
à vida, aos deuses, como parte essencial dessa escrita de nosso destino
– com os naturais intervalos de fatalidades que não se podem evitar,
mas têm de ser enfrentadas.
Acredito em pegar o touro pelos chifres, mas vezes demais fiquei simplesmente deitada e ele me pisoteou com gosto. Afinal, a gente é apenas humano.
Nessa difícil história nossa, dizer “sim” ao negativo, ao sombrio,
em lugar de dizer “sim” ao bom, ao positivo, é o desafio maior.
Pois a questão é saber a hora de pronunciar uma ou outra palavra, de assumir uma ou outra postura. O risco de errar pode significar inferno ou paraíso.
Também descobri (ou inventei?) isso de existir um ponto cego da perspectiva humana,
em que não se enxerga o outro mas apenas um lado dele:
seu olho vazado, sua boca cerrada, seu coração amargo. Sua alma árida, ah…
O ponto cego das nossas escolhas vitais é aquele onde a gente pode sempre dizer “sim” ou “não”, e nossa ambivalência não nos permite enxergar direito o que seria melhor na hora:
depressa, agora. O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse “não” primeiro.
E todos, ou os dois, deviam naquele momento ter dito “sim”.
Viver é cada dia se repensar:
feliz, infeliz, vitorioso, derrotado, audacioso ou com tanta pena de si mesmo.
Não é preciso inventar algo novo.
Inventar o real, o que já existe, é conquistá-lo: é o dom dos que não acreditam só no comprovado, nem se conformam com o rasteiro.
Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo e recolhe o errado.
Da acomodação brotam fantasmas que tomam a si as decisões:
quando ficamos cegos não percebemos isso,
e deixamos que a oportunidade escape porque tivemos medo de dizer o difícil “sim”.
O “não” é também um ponto cego por onde a gente escorre para o escuro da resignação.
O ponto mais cego de todos é onde a gente nunca mais poderá dizer “sim” para si mesmo.
E aí tudo se apaga. Mas com o “sim” as luzes se acendem e tudo faz sentido.
Dizer “sim” a si mesmo pode ser mais difícil do que dizer “não” a uma pessoa amada:
é sair da acomodação, pegar qualquer espada – que pode ser uma palavra, um gesto,
ou uma transformação radical, que custe lágrimas e talvez sangue – e sair à luta.
Dizer “sim” para o que o destino nos oferece significa acreditar que a gente merece algo parecido com crescer, iluminar-se, expandir-se, renovar-se, encontrar-se, e ser feliz.
Isto é: vencer a culpa, sair da sombra e expor-se a todos os riscos implicados,
para finalmente assumir a vida.
Fazer suas escolhas, assinar embaixo, pagar os preços…e não se lamentar demais.
Porque programamos o próprio destino a cada vez que,
num tímido murmúrio ou num grande grito, a gente diz para si mesmo: “Sim!”

A arte de escrever - Schopenhauer

Assim como as atividades de ler e aprender, quando em excesso,
são prejudiciais ao pensamento próprio,
as de escrever e ensinar em demasia também desacostumam os homens da clareza e profundidade do saber e da compreensão,
uma vez que não lhes sobra tempo para obtê-los.
Com isso, quando expõe alguma idéia,
a pessoa precisa preencher com palavras e frases as lacunas de clareza em seu conhecimento.
É isso, e não a aridez do assunto, que torna a maioria dos livros tão incrivelmente entediante. Pois, como podemos supor,
um bom cozinheiro pode dar gosto até a uma velha sola de sapato;
da mesma maneira, um bom escritor pode tornar interessante mesmo o assunto mais árido.


in “ A arte de escrever”