domingo, 28 de fevereiro de 2010

Que o tempo nunca leve - Alice Ruiz

Que o breve
Seja de um longo pensar
Que o longo
Seja de um curto sentir
Que tudo seja leve
De tal forma
Que o tempo nunca leve!

Insista - Fabrício Carpinejar

Sempre insista. Fale mais do que seja possível pensar. Insista.
Temos que ter a capacidade de superar as resistências.
Toda primeira conversa enfrentará uma série de inconvenientes. Mas insista.
Não recue com a gafe, com o estardalhaço, com a vergonha. Siga adiante.
Comece a rir sozinha. Rir é receber a pergunta: o que você está rindo? Rir é ser perguntado.
Não há motivo para rir, rir é se abraçar. Minha risada é meu gemido público.
Acordar me deixa excitado.
Talvez aquela amiga não queira namorá-lo para não estragar a amizade.
Portanto, diga: quero hoje estragar nossa amizade. Estragar de jeito.
Arruinar nossa amizade. Corromper nossa amizade.
Estrague fundo, o amor pode estar recolhido nela.
Mas não aceite tão rápido o que ela não acredita. É disfarce, vivemos disfarçados de normalzinho, de ponderado, de retraído, porque a verdade quando surge faz atitudes impensadas,
como comer algodão-doce nesta terça-feira diante de uma escola de normalistas.
Que saudades de acenar para uma freira dirigindo um fusca.
Deus é uma freira dirigindo um fusca. Tenho saudades de me exibir cortando laranjas.
As tiras simétricas, os cabelos loiros da laranjeira.
Tenho saudade de passear com a minha laranjeira.
Não se explique, insista.
Eu não vou ficar esperando alguém me salvar. Eu mesmo me salvo.
Eu mesmo me arrumo para a loucura.
Insista. O apaixonado cria sua boca. Cria sua boca para cada boca.
Caso tenha prometido ir atrás dele, vá.
Telefone, ainda que atrasada dois anos da promessa.
Volte atrás, não queria pensar com os olhos, a boca são olhos mais atentos.
Não se intimide ao encontrar seu homem no momento errado. É sempre o momento errado.
Seja o momento errado da vida dele. Mas seja parte da vida dele.
Seja o erro mais contundente da vida dele. Seja a vida do seu erro, para ele errar mais seguido.
Talvez aquele amigo não converse para manter a aparência de misterioso.
Talvez ele nem saiba conversar, seja incompetente. Insista.
Uma hora ele vai tomar um porre do seu silêncio, sentar no meio-fio e falar aramaico.
Todo homem guardado uma hora fala aramaico.
Insista, esteja perto para o sermão dos pássaros no viaduto.
A vida mete medo quando ela não é formalidade,
não temos como nos defender do que parte dos dentes.
Tenha um medo assombroso da vida, que é mais justo,
deixe a morte com ciúme e inveja, deixe a morte sem dançar.
Não fique articulando frases inteligentes, comoventes, certas. Insista.
Sei o valor de uma fantasia, mas insista.
Tropeçar ainda é andar, pedir desculpa ainda é avançar, concentre-se na dispersão.
Ninguém quer falar com ninguém. Mas insista.
Na sala do dentista, no trem, no ônibus, no elevador. Insista.
O que mais precisamos é estranheza para reencontrar a intimidade.
Não há nada íntimo que não tenha sido estranho um dia.
Seja estranho com o ascensorista, com o porteiro do prédio, com a colega.
Declare-se apaixonado antecipadamente. Depois encontre um jeito de pagar.
Ame por empréstimo.
Ame devendo.
Ame falindo.
Mas não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito.
Sejamos mais reais em nossas dores.
Tudo o que não aconteceu é perfeito.
Dê chance para a imperfeição. Insista.
Estou cansado de me defender - sou só ataque.
Insisto.

Amor I Love You - Eça de Queiroz

(...) tinha suspirado, tinha beijado o papel devotadamente!
era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades,
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido;
sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo conduzia a um extase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!!!


trecho do 'Primo Basílio'

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Esquecer - Elvis Lozeiko


Não estamos aqui, não
Fomos viajar para a vida
Comer pão com morte
Fomos alimentar o ódio
Mas amar todo mundo
Esquecer que dói esquecer

Você pode perguntar, sim
Claro que pode
Mas não estamos aqui, não
Dependemos do equilíbrio
Para desfragmentar o imbróglio
E sentir saudades também

Esse é o exagero documentado
Onde – pelas vias alternativas
Consegue-se destruir cenas
Onde pequenas virgens
Estupradas e cheias de calor
Esperam conseguir dois beijos
E pouquíssimos abraços

Frio, não há frio no inverno
Não há inferno no céu
Talvez apenas santos tardios
Talvez apenas demônios quietos

Confusão e caos, língua e comida
Chega mais, nunca mais vem
Eis o espetáculo de outrora
Calejante e incisivo purgatório
O confessionário às avessas

Não lembraria das moscas
Se não fosse teu hálito
Poderia aceitar as pazes
Mas esse erro foi demais

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Razões - Judith Guest

"Para se ter uma razão para levantar de manhã,
é preciso possuir um princípio qualquer,
acreditar em alguma coisa.
Um desses dizeres que se colam nos pára-choques dos carros serve.”

in Gente como a Gente .

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Esse mistério - Ana Jácomo

Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente se encante tanto por outra vida. E sinta vontade de escrever poemas. Garimpar estrelas. Deixar florir pelo corpo os sorrisos que nascem no coração. Nesse mistério que nos faz olhar a mesma imagem inúmeras vezes, sem cansaço, mesmo nos instantes em que é feita de papel ou de memória.
Que nos faz respirar feliz que nem folha orvalhada.
Querer caber, com frequência, no mesmo metro quadrado onde a tal vida está.
Cantarolar pela rua aquela canção que a gente não tinha a mínima ideia de que lembrava.
Estive pensando nesse mistério que faz com que a vida da gente encontre essa vida na multidão planetária de bilhões de outras. E sem saber que ela existia, perceba ao encontrá-la que sentia saudade dela antes de conhecê-la. Estive pensando nesse mistério que faz com que aquela vida que acaba de encontrar a nossa nos deixe com a impressão de estar no nosso caminho desde sempre, como se fosse um sol que esteve o tempo todo ali e a gente somente não o ouvia cantar. Nesse mistério que nos faz trocar buquês dos olhares mais cuidadosos.
Que nos faz querer cultivar jardins, lado a lado. Nesse mistério que faz com que a nossa vida queira um bem tão grande à outra vida, que vai ver que isso já é uma prece e a gente nem desconfia.
Estive pensando nesse mistério lindo que você é para alguém e alguém é para você ou que ainda serão um para o outro. Nessa oportunidade preciosa dos encontros que nos fazem crescer no amor também com o tempero bom da ludicidade. Nesse clima de passeio noturno em pracinha de cidade pequena. Nessa paz que convida o coração pra se recostar e repousar cansaços. Nesse lume capaz de clarear um quarteirão inteirinho da alma. Nesse abraço com braços que começam dentro da gente. Nessa vontade de deixar o mundo todo pra depois só para saborear cada milímetro do momento embrulhado pra presente.
Estive pensando nesse mistério que não consigo desvendar. Nem tento.

Coração - Maiakovski

"Nos outros eu sei onde se abriga o coracão,
é no peito;
em mim a anatomia ficou toda louca,
eu sou todo coracão."

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Eu quero... - Fernando Pessoa

Eu quero um colo, um berço,
um braço quente em torno ao meu pescoço.
Uma voz que cante baixo
e pareça querer me fazer chorar.
Eu quero um calor no inverno...
Um extravio morno de minha consciência
e depois sem som, um sonho calmo,
um espaço enorme,
como a lua rodando entre as estrelas.

Felicidade - Schopenhauer

A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos.
O dinheiro é uma felicidade humana abstracta;
por isso aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana,
dedica-se completamente a ele.
A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais.
Quanto mais elevado é o espírito mais ele sofre.

Amor é recompensa - Victor Hugo

"Deixe-se pois amar! o amor é a vida.
E tudo que se lamenta e tudo que se deseja.
Quando se vê sua juventude declinar no poente!
A beleza é a audácia!
o amor é a recompensa:
deixa-te recompensar!"


O amor mais uma vez... - Fernanda Young

"(...) E não há paisagem que seja mais linda do que o rosto do seu amor.
Não há pôr-do-sol que valha desviar seu olhar do dela.
Eu te amo. Eu também te amo. Eu te amo mais. Impossível.
Eu te amo o mundo. Eu te amo o universo.
Te amo tudo aquilo que não conhecemos.
E eu te amo antes que tudo o que nós não conhecemos existisse.
Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo mais do que a mim.
'Já conheço os passos dessa estrada’...
E, mesmo assim, estarei sempre pronto para esquecer aqueles que me levaram a um abismo.
E mais uma vez amarei.
E mais uma vez direi que nunca amei tanto em toda a minha vida."

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Obrigado por insistir - Martha Medeiros

Até o mais seguro dos homens e a mais confiante das mulheres já passaram por um momento de hesitação, por dúvidas enormes e dúvidas mirins, que talvez nem merecessem ser chamadas de dúvidas, de tão pequenas. Vacilos, seria melhor dizer. Devo ir a este jantar, mesmo sabendo que a dona da casa não me conhece bem? Será que tiro o dinheiro do banco e invisto nesta loucura? Devo mandar um e-mail pedindo desculpas pela minha negligência?
Nesta hora, precisamos de um empurrãozinho. E é aos empurradores que dedico esta crônica, a todos aqueles que testemunham os titubeios alheios e dizem: vá em frente!
“Obrigada por insistir para que eu pintasse, que eu escrevesse, que eu atuasse, obrigada por perceber em mim um talento que minha autocrítica jamais permitiria que se desenvolvesse.”
“Obrigada por insistir para que eu fosse visitar meu pai no hospital, eu não me perdoaria se não o tivesse visto e falado com ele uma última vez, eu não teria ido se continuasse sendo regida apenas pela minha teimosia e orgulho.”
“Obrigada por insistir para que eu conhecesse Veneza, do contrário eu ficaria para sempre fugindo de lugares turísticos e me considerando muito esperta, e com isso teria deixado de conhecer a cidade mais surreal e encantadora que meus olhos já viram.”
“Obrigada por insistir para que eu fizesse o exame, para que eu não fosse covarde diante das minhas fragilidades, só assim pude descobrir o que trago no corpo para tratá-lo a tempo. Não fosse por você, eu teria deixado este caroço crescer no meu pescoço e me engolir com medo e tudo.”
“Obrigada por insistir para eu voltar pra você, para eu deixar de ser adolescente e aceitar uma vida a dois, uma família, uma serenidade que eu não suspeitava. Eu não sabia que amava tanto você e que havia lhe dado boas pistas sobre isso, como é que você soube antes de mim?”
“Obrigada por insistir para que eu deixasse você, para que eu fosse seguir minha vida, obrigada pela sua confiança de que seríamos melhores amigos do que amantes, eu estava presa a uma condição social que eu pensava que me favorecia, mas nada me favorece mais do que esta liberdade para a qual você, que me conhece melhor do que eu mesma, apresentou-me como saída.”
“Obrigada por insistir para que eu não fosse àquela festa, eu não teria agüentado ver os dois juntos, eu não teria aturado, eu não evitaria outro escândalo, obrigada por ficar segurando minha mão e ter trancado minha porta.”
“Obrigada por insistir para eu cortar o cabelo, obrigada por insistir para eu dançar com você, obrigada por insistir para eu voltar a estudar, obrigada por insistir para eu não tirar o bebê, obrigada por insistir para eu fazer aquele teste, obrigada por insistir para eu me tratar.”
Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tempo - Coco Chanel

"Não há tempo para a monotonia do previsível.
Há tempo para o trabalho.
E tempo para o amor.
Isso nos toma todo o tempo.”

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dicas para fazer um ano melhor - Roberto Shinyashiki


Comecei um novo ciclo ontem - 14/02 - fiz 35 anos...
(daqui mais 5 estou na casa dos "enta" quarenta, cinquenta, sessenta...rsssrsss)
tive anseios de comemoração no início do dia, mas quando a noite chegou, chegou também a conclusão que preciso rever meus atos, minhas atitudes e minhas "pré-ocupações..."
Achei esse texto do Shinyashiki que resume minhas ações pro próximo ciclo:


"Reconhecer o próprio erro e pedir desculpas
são demonstrações de humildade e de valorização do outro.
É ter consciência da conduta inadequada
e assumir o compromisso de agir diferente da próxima vez.
É dizer “Você é importante para mim” de forma sensível.
Finalizando mais um ano, começando outro.
Todo fim é também um novo início.
Então, em vez de pensar no que se foi, com tristeza, festejemos o que vem pela frente.
É a renovação da vida.
É uma nova chance de começar tudo de novo.
E desta vez fazer diferente!
Alguns lembretes que podem ajudar você a fazer do próximo ano
um período ainda mais feliz em sua vida:

1 - Converse. Precisamos deixar nossa imaginação voar com um companheiro.
Criar tempo para conhecer o outro é fazê-lo entrar em nosso mundo.
Conversar, antes de mais nada, é ter curiosidade sobre o mundo do outro,
é olhar essa pessoa com os olhos do novo.

2 - Não ame simplesmente o que você faz. Ame o próximo!
Ame a pessoa que está à sua frente, que o procura com seus dramas e desejos.
Existe um ser humano à sua frente que precisa se sentir importante.

3 - Aja sempre como um ser especial que reconhece a grandeza que existe em cada um. Destrua o hábito de pensar mal das pessoas e procure concentrar sua atenção nas virtudes delas.

4 - Peça desculpas. Do mesmo modo que é impossível viver sem que alguém pise em nosso calo, é difícil passar pelas pessoas sem cometer algum erro ou sem incomodá-las.
Reconhecer o próprio erro e pedir desculpas são demonstrações de humildade e de valorização do outro. É ter consciência da conduta inadequada e assumir o compromisso de agir diferente da próxima vez. É dizer “Você é importante para mim” de forma sensível.

5 - Perder faz parte da vida, e nós precisamos aceitar as derrotas inevitáveis.
O mais impute é aprender as lições que elas trazem. As derrotas somente têm significado quando com elas adquirimos a consciência de que algo poderá ser melhorado.
Se não for assim, nos acostumaremos a elas e perderemos a auto-estima.

6. Peça ajuda. Somente as pessoas com elevada auto-estima revelam fragilidades e mostram que confiam no outro. Pedir ajuda valoriza os conhecimentos do parceiro, mostrando que suas opiniões e idéias são importantes.
E, quando todos se sentem aptos e importantes, a equipe fica mais forte!

7. Mantenha presença marcante na vida de seus filhos. Apesar da falta de tempo, não deixe tudo para o final de semana. Principalmente os pais que são separados.
Mesmo que, lá pelas 7 da noite, você ainda esteja trabalhando, telefone perguntando como foi o dia das crianças. Conte também sobre seu cotidiano.
Seu filho deve ter curiosidade em saber o que você faz quando está longe dele.

8 – Medite. Você é o único que pode criar esse tempo para pensar em sua vida.
Não fuja de si mesmo. O grande encontro é com você.
A pessoa que precisa conhecer hoje é você, com sua alma, com suas reais preferências.

9- Errar faz parte da vida. Por mais que sejamos competentes e queiramos acertar sempre, errar é uma característica de quem está no jogo.

10- Lembre-se de que Deus está sempre com você, por mais angustiante que seja a situação pela qual estiver passando. Sentir a presença dele é o primeiro passo para ser capaz de superar qualquer obstáculo."

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Amor em paz - Vinícius de Moraes

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

Além da terra, além do céu - Carlos Drummnond de Andrade

Além da terra, além do céu,
no trampolim dos sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcedente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
in "Amar se aprende amando" pág. 16

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Florescer - Pablo Nerruda

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi:
não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Perseverança - Victor Hugo

"Quase todo o segredo dos grandes corações está nessa palavra:
Perseverando.
A perseverança está para a coragem como a roda para a alavanca;
é renovação perpétua do ponto de apoio. "

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sorriso - Antoine Saint-Exupéry

“No momento em que sorrimos para alguém,
descobrimo-lo como pessoa,
e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos pessoa para ele”.

Rotina - Rubem Fonseca

Almoçava em uma hora, às vezes uma hora e meia, num dos restaurantes das proximidades,
e voltava para o escritório.
Havia dias em que eu falava mais de cinqüenta vezes ao telefone.
As cartas eram tantas que a minha secretária, ou um dos assistentes, assinava por mim.
E, sempre, no fim do dia, eu tinha a impressão
de que não havia feito tudo o que precisava ser feito.
Corria contra o tempo.
Quando havia um feriado, no meio da semana, eu me irritava,
pois era menos tempo que eu tinha.
Levava diariamente trabalho para casa, em casa podia produzir melhor,
o telefone não me chamava tanto.

in O Outro.

Mudanças - Guimarães Rosa

“ O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas
– mas que elas vão sempre mudando ”.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Amar pode dar certo - Roberto Shinyashiki

"Se, em algum momento da vida, você se sentiu incapaz de realizar um trabalho para o qual estava qualificado; se ficou mudo diante de uma platéia, mesmo sendo conhecedor do assunto;
se acordou pela manhã e, sem sintoma algum de doença, sentiu-se apático e sem motivação para levantar-se; se não foi capaz de declarar-se à pessoa que você amava;
se teve o desejo de constituir uma família, mas até hoje continua solteiro,
provavelmente você já experimentou uma sensação de incapacidade.
Pode-se observar duas formas de incapacidade.
Na incapacidade fundamentada, existe um impedimento verdadeiro para você atingir seus objetivos. Por exemplo, uma pessoa ama outra, mas esta não corresponde ao sentimento por não estar disponível, ou por não querer, pois já ama alguém. Existe aí um obstáculo real, e não vencê-lo mostra que a incapacidade é real. Continuar insistindo nesse amor é sabotar a possibilidade de encontrar outro amor, é lançar-se na solidão.
Outra forma de incapacidade é a imaginária. Ocorre quando a pessoa se julga incapaz de obter algo que, na verdade, lhe seria possível.
Por exemplo: alguém se apaixona por uma pessoa que pode corresponder àquele sentimento, porém não consegue declarar o seu amor a ela. Nesse caso, a fantasia cria obstáculos ilusórios e configura uma incapacidade ilusória. É importante saber diferenciar a incapacidade real da imaginária, pois ambas podem existir numa mesma situação.
Como no caso do homem cuja mulher estava triste porque o pai adoecera. Ele nada podia fazer para curar o enfermo e, conseqüentemente, para devolver a alegria à mulher, trata-se de incapacidade real. Mas ele podia ouvi-la e oferecer-lhe o ombro para chorar, de maneira que ela pudesse se sentir protegida, apesar de todas as dificuldades. Se o homem não agiu assim e continuou afirmando que nada podia fazer por sua mulher, colocou-se numa situação de incapacidade imaginária, que no fundo demonstrava uma grande falta de coragem de fazer o que estava ao seu alcance.
A incapacidade imaginária pode manifestar-se de duas formas: pela supervalorização do outro, de tal maneira que ele é considerado alguém inatingível, ou pela diminuição do nosso potencial, fazendo com que nos sintamos incapazes de receber amor e atenção. O sentimento de rejeição é tão grande nesses casos que impede a aproximação de outra pessoa. Se isso ocorre mesmo havendo amor entre o casal, é porque ambos estão fugindo de algo que os ameaça.
Pensando tornar-se seguros através dessas condutas, podem arruinar esse amor. Por que não deixar o parceiro perceber nossas inseguranças? Ninguém é um gigante ou um super-herói.
Todo ser humano tem o direito de se sentir incapacitado, inseguro. Na verdade, é preciso armar-se de coragem para reconhecer essas limitações. Faz parte da arte de amar usar bem as opções em favor da sobrevivência do amor.
Uma das formas mais poderosas de proteger o amor, numa relação saudável, é permitir que os limites, as inseguranças, os pontos fracos sejam conhecidos pelo parceiro, de modo que ambos possam cuidar para que eles não os prejudiquem. Ameaças e inseguranças ocorrerão sempre, pois ninguém dá cem por cento de garantia a ninguém.
Mas, se cada um se conscientizar da forma como pode contribuir para a relação crescer, as ameaças e as inseguranças serão muito menores.
A única maneira de esclarecer se nossa capacidade é real ou imaginária consiste em ter coragem de acreditar no amor do outro, ter confiança de que o outro nos amará com nossas limitações reais e nos ajudará a vencer as imaginárias. A essa atitude damos o nome de entrega amorosa."

Meditando - Osho

"Torne-se mais amoroso e mais silencioso.
É uma tarefa difícil!
Seja amoroso com os outros e,
quando estiver sozinho, fique em silêncio.
Comece a se sentar em silêncio.
Sempre que tiver tempo, sente-se em silêncio,
com os olhos fechados, sem fazer coisa alguma.
Sei que vai ser um fenômeno difícil,
mas, se você começar, um dia conseguirá fazê-lo.
Estas duas coisas são de suma importância:
o dom de amar os outros e o dom do silêncio consigo mesmo.
Elas lhe trarão grande alegria e um dia trarão Deus a sua porta."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Corportamento - Goethe





" O comportαmento é um espelho em que cαdα um vê α suα própriα imαgem.'

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Queremos a presença das coisas - Rosa M Martelo

Queremos a presença das coisas.
É tão simples, isto: queremos as coisas próximas, íntimas,
como peças de roupa pousadas na cadeira ao nosso lado.
Próximo e íntimo, desse mesmo modo, o que nos pertence ainda mais de perto:
a evidência viva do mundo. E toda inteira, já agora.
Queremos aberta a porta do ser – que há-de ter certamente uma porta.
Vendo bem, porque não haveria essa porta?
Há, em certos dias, em certos lugares do mundo,
uma tão certa harmonia entre a temperatura do corpo e a do ar
que quase se perde a noção de entre uma coisa e outra ser a pele uma fronteira.
O ar parece então levemente texturado, suave como algodão em rama.
Dir-se-ia que o trazemos vestido.
É qualquer coisa como isto, o que queremos.
Algo de que esse envolvimento fosse a imagem ou – melhor ainda -
simplesmente um caso muito concreto.

in A Porta de Duchamp.

Bem no fundo - Paulo Leminski

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Prudência - Johann K Lavater

"Se deseja ser delicado e correto,
discuta com calma,escute com atenção,
responda com tranqüilidade
e pare de falar quando nada mais tiver a dizer".

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Faltando tempo - Simone de Castilho

A maioria das pessoas que estão no mercado de trabalho se queixam de um mesmo problema:
a falta de tempo. O trabalho consome praticamente a totalidade do dia, não sobrando tempo para nenhuma outra atividade, uma vez que se chega exausto e sem vontade de mais nada em casa.
O que acontece é que as pessoas dimensionam mal e não fazem nenhum tipo de planejamento sobre suas vidas além do trabalho.
Trabalhar é uma necessidade comum a todos mas a forma como executamos nosso trabalho, a velocidade e as prioridades é que darão rumo ao tipo de vida que teremos.
No trabalho, estabelecer o que é prioritário faz toda a diferença.
Recebemos inúmeras solicitações durante o dia e sabemos impossível atender a todas.
Ao invés de viver este stress, vamos priorizar e atender o que é mais importante, o demais será atendido a seu tempo e de acordo com uma escala em nossas tarefas diárias.
Em casa, estabelecer prioridades também é fundamental. Se deixarmo-nos levar pelas atividades profissionais e o cansaço que elas nos imputam, jamais teremos tempo para a família, os amigos e até para nós mesmos.
Uma coisa é certa: quanto menos fazemos, menos queremos fazer. O tempo deve-se adaptar às nossas necessidades ou seja nós devemos encontrar esse tempo priorizando aquilo que é importante para nós e colocando estas atividades na frente. Desta forma podemos nos programar além do trabalho, podemos cuidar da vida pessoal, da casa, da família e podemos ter mais qualidade em nossa vida como um todo.
Afinal o grande segredo e o grande desafio é encontrar este ponto de equilíbrio e saber administrar este tempo.

Ausência - Sophia M B Andresen

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua


in ‘Mar Novo’ (1958)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Muitas chances numa única chance - Carpinejar

Qualquer coisa que estraga em sua casa, minha mãe chama o Leonel.
Telhados, ar condicionado, piso, rachaduras, ventiladores de teto.
Ele mora na mesma quadra e nunca demora a vir.
Enquanto cimentava a escada do pátio, Leonel levantava altivamente o rosto quando provocava a figura materna. Atento, gargalhava a cada disparo de afeto.
Ao guardar a pá e o carrinho de mão, confessou:
- Minha mãe morreu quando nasci. Vejo vocês e tenho saudade da saudade.
Partilho semelhante inveja.
Quando vou sozinho a um restaurante, não canso de espiar as conversas de casais.
Eu me interesso pelos assuntos mais frívolos.
Ponho a mão no queixo, o guardanapo nos joelhos e admiro o espetáculo da intimidade.
O amor que pode ser amor ali, acontecendo em minha frente entre descrições de trabalho e confissões de meio-dia. O amor ali, camuflado e prosaico,
mas devidamente forte para atravessar a morte e prometer vida eterna
mesmo que não tenha eternidade depois.
Mesmo que um dos dois sequer acredite em Deus.
Há gente que faz o contrário de Leonel. Mata o amor no momento em que ele nasce.
Pois não pensem que todos querem um amor grande. Reclamam, mas não querem.
Há gente que diminui o amor de propósito para não sofrer com ele.
Elabora uma versão para provar que ele não existiu.
Deixam o amor escapar, sumir, desaparecer para não se atrapalhar.
Há gente que até se convence que aquele amor grande não era devidamente grande.
Há gente que pede um amor pequeno, doméstico, que não desestruture seus hábitos.
Um amor anão de jardim, um amor de balcão, de pé, rápido.
Um amor minúsculo, sem acento, que não rivalize o amor próprio.
Que esteja próximo mas não fale alto, que esteja perto mas não influencie,
que seja chamado quando se tem vontade e seja desfeito quando não serve mais.
O amor grande não traz uma felicidade constante - é a principal cilada -,
traz uma felicidade irregular, intensa, atávica, que voa muito mais alto do que o conforto.
Na estabilidade, é fácil sair da felicidade e da tristeza.
No amor, descobrimos o quanto podemos ser felizes,
e incomoda ter que buscar mais felicidade.
Descobrimos o quanto podemos também ser tristes,
e incomoda que não sairemos da tristeza sem que o amor volte.
Há gente que não tem esperança para se arrepender.
Que sente ciúme de não ter sido assim antes e não se permite não ser mais como antes.
Que vai terminar o amor para não se mostrar incompetente.
Que prefere adiar o julgamento a se abrir para a verdade.
Que não perdoa no momento de se perdoar.
Um amor miúdo vai ao psiquiatra de manhã e termina a relação de noite.
O amor grande termina com psiquiatra de manhã e se reconcilia à noite.
Porque o amor grande é uma insanidade lúcida, nem os melhores amigos entendem,
é detratar e se retratar com mais freqüência do que se gostaria.
Amor é o excesso de responsabilidade, de encargo, confiado a quem nos acompanha.
Oferecemos o que não conseguimos alcançar.
Sempre seremos menores do que ele, já que é o único que cresce na extinção.
Minha mãe costuma dizer que casamos quando encontramos uma solidão maior do que a nossa - só assim saímos da própria solidão.
Há gente, sim, que muda de amor para não mudar de opinião,
que muda de homem para não mudar sua rotina,
que manda onde não vigora poder e dominação.
Que culpa o amor por não dar conta dele, que ama já pedindo desculpa por não amar.
O amor grande não é um grande amor.
Há gente, eu conheço, que desperdiça a chance do amor grande
porque há apenas uma chance para amar grande.
Muitas chances dentro de uma chance.
O resto são disfarces, suturas, apoios. Amor grande seria insuportável duas vezes nesta vida.
Ou a gente se apequena para receber esse amor
ou permanece se engrandecendo para não aceitá-lo.