sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Espero 2011 ... - Adélia Nenevê

Em breve será 2011, e quero aprender a viver o presente, antes de tudo.
Espero não ficar sempre achando que vivo no tempo errado,
nas estações erradas, errando nas decisões...nas escolhas,
Sempre com a impressão de que cheguei tarde demais...
Espero conseguir me sentir livre,
livre das feridas, das cicatrizes que tanto tento esconder...
Quero voltar a sorrir por dentro também;
sorrir somente e sempre "por fora" cansa...

Vivo as circunstâncias que a vida me trouxe,
aceitei tudo por falta de escolha,
quando não se tem escolha,
a única saída é aceitar tudo pacificamente,
evitar mais sofrimentos e deixar os outros serem felizes.

Espero que 2011 seja a minha vez de ser feliz;
que eu viva no tempo certo,
não chegue nem cedo e nem tarde demais,
somente na hora exata,
com o coração aberto,
a coragem de novamente acreditar que também posso...
e a esperança de que tudo pode ser melhor !

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris,
ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo,
espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha,
Você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

As circunstâncias - Elizabeth Gilbeert

”[…]’É impossível ver o próprio reflexo em águas movimentadas,
isso só é possível em águas paradas.’[…]
Comecei a pensar em quanto tempo da minha vida
eu gasto me debatendo de um lado para o outro como um peixão procurando o ar
ou desvencilhando-me de alguma preocupação desconfortável,
ou então saltitando alegremente em direção de mais prazer ainda.
E me perguntei se poderia ser útil para mim
(e para aqueles que carregam o fardo de me amar)
se eu conseguisse aprender a ficar parada e suportar um pouco mais,
sem me deixar sempre arrastar pela estrada esburacada das circunstâncias.


in "Comer, Rezar, Amar "

Triste realidade - Betinho


"A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego.

O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário".

Ser e ter - Antoine Saint-Exupéry


Aqueles dizem-te:
" Eu sou este. Aquele ou aquele outro. Possuo isto ou aquilo."
Fariam melhor se te dissessem:
"Sou serrador de tábuas, sou passagem de árvore em vias de se casar com o mar.
Estou a caminho de uma festa para outra.
Pai realizado e a realizar, porque minha esposa é fecunda.
Sou jardineiro pela primavera,
porque ela me utiliza e se serve da minha pá e do meu rastelo.
Sou aquele que vai para..."
Ao passo que eles não vão para parte alguma.
E a morte não será para eles o que o porto é para o navio.

O voô do tempo - Virginia Woolf


O voô do tempo que nos empurra tão tragicamente para adiante;
o monocórdio e irritante eterno,
por vezes rebentando em ferozes labaredas amarelas
como aquelas efêmeras bolas amarelas entre folhas verdes
(ela olhava as laranjeiras);
beijos em lábios que irão morrer;
o mundo girando, girando em confusão de som e calor
– embora na verdade exista a noite sossegada com seu doce palor [...].


in "O Quarto de Jacob, p. 208" Tradução de Lya Luft.

sábado, 25 de dezembro de 2010

O que fizeram do Natal - Carlos Drummond de Andrade

Natal
O sino toca fino.
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
Encontraram o coitadinho
(Natal)
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.

As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.

P.S. - Hoje nos bailes funks...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A vida é - Fernanda Young


Eu tenho uma alcachofra mofada no lugar do coração.
-Ah, sim, querida, a vida continua...
Não, não me diga bobagens!
A vida é.
E o é se estende somente nesse espaço:
- agora - .

In "Dores do Amor Romântico"

Realidade - Fernando Pessoa

"A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios..."

Livre arbítrio - Gasset

Negrito

"Eu sou eu e minha circunstância.

Se não salvo a ela, não salvo a mim”.

O silêncio, o tempo... - Antoine Saint-Exupéry

Nunca dês ouvidos àqueles que, no desejo de te servir,
te aconselham a renunciar a uma das tuas aspirações.
Tu bem sabes qual é a tua vocação, pois a sentes exercer pressão sobre ti.
E, se a atraiçoas, é a ti que te desfiguras.
Mas fica sabendo que a tua verdade se fará lentamente,
pois ela é nascimento de árvore e não descoberta de uma fórmula.
O tempo é que desempenha papel mais importante,
porque se trata de te tornares outro e de subires uma montanha difícil.
Porque o ser novo, que é unidade libertada no meio da confusão das coisas,
não se te impõe como a solução de um enigma,
mas como um apaziguamento de litígios e uma cura de ferimentos.
E só virás a conhecer o seu poder, uma vez que ele se tiver realizado.
Nada me pareceu tão útil ao homem como o silêncio e a lentidão.
Por isso os tenho honrado sempre como deuses por demais esquecidos.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Temperamento - Eleanor Roosevelt

"A mulher é como um saquinho de chá.
Você nunca sabe se ela é forte até que entre em água quente".

O Mapa - Mário Quintana


Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Amigos verdadeiros - Antoine Saint-Exupéry

Nada, jamais, na verdade, substituirá o companheiro perdido.
Ninguém pode criar velhos companheiros.
Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns,
de tantas horas más vividas juntos, de tantas desavenças,
de tantas reconciliações, de tantos impulsos afetivos.
Não se reconstroem essas amizades.
Seria inútil plantar um carvalho na esperança de ter,
em breve, o abrigo em suas folhas.
Assim vai a vida.
A principio, enriquecemos;
plantamos durante anos,
mas os anos chegam em que o tempo destrói esse trabalho,
arranca essas arvores.
Um a um, os companheiros nos retiram sua sombra.
E aos nossos lutos mistura-se então
a mágoa secreta de envelhecer.


Dificuldades - Nicholas Sparks

Segundo meu pai, quando você está em dificuldades,
olhe as pessoas ao redor e verá que todas estão sofrendo por algo,
e para cada uma delas,
a situação parece tão difícil como o que você está passando."


in "Querido John"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Traduzir-se - Ferreira Gullar


"Uma parte de mim
É todo mundo:
Outra parte é ninguém:
Fundo sem fundo.

Uma parte de mim:
É multidão:
Outra parte estranheza
E solidão.

Uma parte de mim
Pesa, pondera:
Outra parte
Delira.

Uma parte de mim:
Almoça e janta:
Outra parte
Se espanta.

Uma parte de mim
É permanente:
Outra parte
Se sabe de repente.

Uma parte de mim
É só vertigem:
Outra parte,
Linguagem.

Traduzir uma parte
Na outra parte
-Que é uma questão
De vida ou morte-
Será arte?"


In "Os melhores poemas de Ferreira Gullar". p.144-5

Dor - Adélia Prado

" Dor não tem nada a ver com amargura.
Acho que tudo que acontece
é feito pra gente aprender cada vez mais,
é pra ensinar a gente a viver.
Desdobrável.
Cada dia mais rica de humanidade."



domingo, 12 de dezembro de 2010

Interior - Clarice Lispector

"A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível,
extremamente interior
e não tem uma só palavra que a signifique"

in "A Hora da Estrela" pág.11

sábado, 11 de dezembro de 2010

Cansaço - Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
- Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser... E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Tempo - Mia Couto



"O tempo é o lenço de todas as lágrimas"

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Referências - Antoine Saint-Exupéry


Vês, lá longe, o campo de trigo?
Eu não como pão. O trigo pra mim é inútil.
Os campos de trigo não me lembram coisa alguma.
E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro.
Então será maravilhoso quando me tiverdes cativado.
O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti.
E eu amarei o barulho do vento no trigo...

Fidelidade - Antoine Saint-Exupéry


Fica sabendo que não é em vão que eu amo o que se acha ameaçado.
Não é de deplorar que as coisas preciosas o estejam.
Eu encontro precisamente nisso uma condição da sua qualidade.
Eu amo o amigo fiel nas tentações.
Se não houvesse tentação, não haveria fidelidade, não teria eu amigos.
E eu aceito que alguns caiam, para dar valor aos outros.

O Trabalho - Roosevelt

“De longe, o maior prêmio que a vida oferece
é a chance de trabalhar muito
e se dedicar a algo que valha a pena”.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Interpretação de Dezembro - C Drummond de Andrade


É talvez o menino
suspenso na memória.
Duas velas acesas
no fundo do quarto.
E o rosto judaico
na estampa, talvez.

O cheiro do fogão
vário a cada panela.
São pés caminhando
na neve, no sertão
ou na imaginação.

A boneca partida
antes de brincada,
também uma roda
rodando no jardim,
e o trem de ferro
passando sobre mim
tão leve: não me esmaga,
antes me recorda.

É a carta escrita
com letras difíceis,
posta num correio
sem selo e censura.

A janela aberta
onde se debruçam
olhos caminhantes,
olhos que te pedem
e não sabes dar.

O velho dormindo
na cadeira imprópria.

O jornal rasgado.
O cão farejando.
A barata andando.
o bolo cheirando.
O vento soprando.
E o relógio inerte.

O cântico de missa
mais do que abafado,
numa rua branca
o vestido branco
revoando ao frio.
O doce escondido,
o livro proibido,
o banho frustrado,
o sonho do baile
sobre chão de água
ou aquela viagem
ao sem-fim do tempo
lá onde não chega
a lei dos mais velhos.

É o isolamento
em frente às castanhas,
a zona de pasmo
na bola de som,
a mancha de vinho
na toalha bêbeda,
desgosto de quinhentas
bocas engolindo
falsos caramelos
ainda orvalhados
do pranto das ruas.

A cabana oca
na terra sem música.
O silêncio interessado
no país das formigas.

Sono de lagartos
que não ouvem o sino.
Conversa de peixes
sobre coisas líquidas.
São casos de aranha
em luta com mosquitos.
Manchas na madeira
cortada e apodrecida.
Usura da pedra
em lento solilóquio.
A mina de mica
e esse caramujo.
A noite natural
e não encantada.
Algo irredutível
ao sopro das lendas
mas incorporado
ao coração do mito.

É o menino em nós
ou fora de nós
recolhendo o mito.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Escrevo - Clarice Lispector


"Escrevo porque sou uma desesperada e estou cansada,
não suporto mais a rotina de me ser.
Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero.
E agora só queria ter o que eu tivesse sido e não fui"


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Luz - Gonzaguinha


"Nunca se entregue.

Nasça sempre com as manhãs.


Deixe a luz do céu brilhar na luz do seu olhar."

Possível e impossível - Pearl S Buck


"Tudo é possível até que se prove impossível.
E ainda assim o impossível pode sê-lo
apenas por um momento."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lembranças - Mia Couto


"Quero pôr os tempos, em sua mansa ordem,
conforme esperas e sofrências.
Mas as lembranças desobedecem,
entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente.
Acendo a estória, me apago a mim. "

Vende-se um passado - Myriam Campello


Volto ao lar como parti, a dor intocada.
E onde é o lar?!(...)
O lar é a pessoa que amamos.
Quando esta é intragada pela escuridão, a orfandade se instala.
Para onde ir?!?(...)
Destrói-se o passado com um peteleco -
basta a porta entre duas pessoas fechar-se com um clique duro.
Mas esquecê-lo é outra história.
Vende-se um passado ainda em bom estado de conservação,
recheado de esplêndidas lembranças.

in "Como Esquecer" pág. 11