quinta-feira, 28 de junho de 2012

Amor perdido - Ernesto Cardenal

"Ao perder-te eu a ti, tu e eu temos perdido,
 eu, porque tu eras o que eu mais amava;
tu, porque era eu que te amava mais.
Mas, de nós dois tu perdestes mais do que eu.
Porque eu poderei amar a outras como amava a ti,
                                            Mas a ti não te amarão mais do que te amava eu!"

Tristeza e felicidade - Dostoiévski


“O homem percebe apenas suas tristrezas.
                                                Ele lida com sua felicidade como algo natural.”

sábado, 23 de junho de 2012

Amor verdadeiro - Antoine Saint-Exupéry

"Não confundas o amor com o delírio da posse, 
que acarreta os piores sofrimentos. 
Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. 
O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. 
Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: 
é que ele não pode ser prejudicado.
 O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca."

O tempo - Shakyamuni

 
O raio jamais feriria a casa, se a casa não o atraísse. 
A casa é tão responsável pela sua ruína quanto o raio. 
Um touro jamais chifrará um homem, se o homem não o convidar a chifrá-lo. 
E, na verdade, aquele homem deve responder mais pelo seu sangue do que o boi. 
O assassinado afia o punhal do assassino, e ambos desferem o golpe fatal. 
O roubado dirige os movimentos do ladrão, e ambos cometem o roubo. 
Sim, o Homem convida as suas próprias calamidades e depois protesta contra os hóspedes importunos, por se haver esquecido quando e como escreveu e enviou os convites. 
O Tempo, no entanto, jamais esquece; 
e o Tempo, a tempo e horas, entrega o convite no endereço certo; 
e o Tempo conduz cada convidado à casa do anfitrião.

Seja você mesmo - E.E. Cummings


"... Não ser ninguém a não ser você mesmo,
 num mundo que faz todo o possível, noite e dia,
 para transformá-lo em outra pessoa, 
significa travar a batalha mais dura que um ser humano pode enfrentar; 
e jamais parar de lutar..."

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tipos de ego - Dalai Lama

“Existem dois tipos de ego, 
e a sabedoria e a inteligência, sabem distingui-los. 
Um tipo só cuida de si mesmo para conseguir alguma vantagem
para si, ignorando os direitos dos outros. 
Outro ego diz: preciso ser um bom ser humano;
 preciso servir”.

Realidade - Fernando Pessoa

A espantosa realidade das coisas.  
É minha descoberta de todos os dias.
 Cada coisa é o que é.
 E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra.
 E quanto isso me basta.

       

terça-feira, 5 de junho de 2012

Responsabilidades - Osho

"Quando você tiver tido um pequeno vislumbre de que você é o criador de sua própria miséria, será muito difícil para você, continuar a criá-la então.
 É fácil viver na miséria quando você sabe que os outros a estão criando – o que fazer?
 Você não tem saída. 
Eis porque vivemos jogando as responsabilidades nos outros."

domingo, 3 de junho de 2012

A eterna busca no outro - Roland Barthes

[...] amei ou amarei várias vezes em minha vida. Isso acaso significaria que meu desejo, por especial que seja, estaria vinculado a um tipo? Meu desejo é pois classificável? Haveria, entre todos os seres que amei, um traço comum, um único, por tênue que seja (um nariz, uma pele, um jeito), que me permita dizer: este é meu tipo! [...] o amante passaria a vida inteira procurando “seu tipo”? Em que recanto do corpo adverso devo ler minha verdade?

Incondicional - Carpinejar

Se amo, porque me amam, tem o amor causa;
se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há de ter porquê, nem para quê.
Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo;
se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo.
Pois como há de amar o amor para ser fino?
Amo, quia amo, amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar.
Quem ama porque o amam, é agradecido;
quem ama, para que o amem, é interesseiro;
quem ama, não porque o amam, nem para que o amem,
esse só é fino.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Faz de conta - Clarice Lispector

"Do coração contraído veio o tremor gigantesco duma forte dor abalada, do corpo todo o abalo — e em sutis caretas de rosto e de corpo afinal com a dificuldade de um petróleo rasgando a terra — veio afinal o grande choro seco, choro mudo sem som algum até para ela mesma, aquele que ela não havia adivinhado, aquele que não quisera jamais e não previra — sacudida como a árvore forte que é mais profundamente abalada que a árvore frágil — afinal rebentados canos e veias, então sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade e pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus, faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro — pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver. Lembrou-se de escrever a Ulisses contando o que se passara, mas nada se passara dizível em palavras escritas ou faladas, era bom aquele sistema que o amado inventara: o que não soubesse ou não pudesse dizer, escreveria e lhe daria o papel mudamente — mas dessa vez não havia sequer o que contar."

in  Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres