terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um instante - Ferreira Gullar


Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente

A vulgaridade - Charles Bucowski


Cuidado com aqueles rápidos em elogiar
Pois precisam de louvores em retorno.
Cuidado com aqueles rápidos em censurar:
Esses temem o que desconhecem.
Cuidado os que procuram constantemente multidões;
Eles não são nada sozinhos.
Cuidado:

O Homem vulgar
A Mulher vulgar
Cuidado com o amor deles
O seu Amor é vulgar,
Busca vulgaridade
Há força no seu ódio
Há força suficiente
No seu ódio para matar,
Para matar qualquer um.


Fazer acontecer - Alan A Milne

“O homem comum acha a vida, como ela é,
muito desinteressante.
E creio que conheço a razão...
É que ele está sempre esperando por algum acontecimento,
em vez de arregaçar as mangas para
fazer as coisas acontecerem”.

sábado, 25 de setembro de 2010

Sozinho e vivo - Bernardo Soares


"Escrevo, triste, no meu quarto quieto,
sozinho como sempre tenho sido,
sozinho como sempre serei.
E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa,
não encarna a substância de milhares de vozes,
a fome de dizerem-se de milhares de vidas,
a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano,
ao sonho inútil, à esperança sem vestígios.
Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele.
Vivo mais porque vivo maior."

Do Livro do Desassossego
(Bernardo Soares foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa).

Canção do Dia de Sempre - Mário Quintana

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Verdade e mentira - José Saramago


Pode ser que a minha verdade seja para ti mentira,
Pode ser, sim,
a dúvida é o privilégio de quem viveu muito,
será por isso que não conseguiste convencer-me
a aceitar como certezas o que para mim mais se parece a falsidade (...)

in Caim, p. 45.

domingo, 19 de setembro de 2010

Temor de si - Clarice Lispector

Quem se recusa o prazer,
quem se faz de monge, em qualquer sentido,
é porque tem uma capacidade enorme para o prazer,
uma capacidade perigosa - daí um temor maior ainda.
Só quem guarda as armas a chave é quem receia atirar sobre todos.


in "Perto do coração selvagem"

Cicatrizes - Isabel Allende

Talvez a gente esteja no mundo para procurar o amor,
encontra-lo e perdê-lo, muitas e muitas vezes.
Nascemos de novo a cada amor e,
a cada amor que termina, abre-se uma nova ferida...
Estou cheia de orgulhosas cicatrizes.

Reinaugurar - Clarice Lispector


"Quero esquecer que jamais esqueci.
Quero esque­cer elogios e os apupos.
Quero me reinaugurar.
E para isso tenho que abdicar de toda a minha obra e come­çar humildemente,
sem endeusamento,
de um começo em que não haja resquícios de qualquer hábito,
cacoetes ou habilidades.
O know-how eu tenho que pôr de lado.
Para isso eu me exponho a um novo tipo de fic­ção,
que eu nem sei ainda como manejar"

in "O Sopro da Vida"

O presente - Clarice Lispector


"Está sempre numa situação pelo menos de semicrise.
Ela aplica intensidade ao que não a me­rece.
A tudo empresta uma paixão que exorbita do motivo da paixão.
E a frivolidade se manifesta ao dar importância às espumas da vida.
Uma vez uma coisa alcançada, ela não a deseja mais.
Agarrar o momento é uma sincronia dela e do tempo:
sem precipitação mas sem demora.
Um presente infinito que não se incli­na sobre o passado nem se projeta para o futuro.
Ê por isso que ela vive tanto.
Sua vida "não muda de assunto",
não é interrompida por vida imaginária.
Vida imaginária é viver do passado ou para o futuro.
O pre­sente traz-lhe dores.
Mas esse presente altamente inexorável projeta uma sombra onde ela pode se retempe­rar,
o repouso da guerreira. "

in "Um Sopro de Vida"

Desistir - Clarice Lispector


"Saber desistir.
Abandonar ou não abandonar
— esta é muitas vezes a questão para um jogador.
A arte de abandonar não é ensinada a ninguém.
E está lon­ge de ser rara a situação angustiosa em que devo de­cidir
se há algum sentido em prosseguir jogando.
Serei capaz de abandonar nobremente?
ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça al­guma coisa?
como, digamos, o próprio fim do mundo?
ou seja lá o que for,
como a minha morte súbita,
hi­pótese que tornaria supérflua a minha desistência?"

in "Um Sopro de Vida"

Passado - Oscar Wilde




"Nenhum homem é rico o suficiente
para comprar o seu passado."


Consequências - Markus Zusak


"...uma oportunidade conduz diretamente a outra,
assim como o risco leva a mais risco,
a vida, a mais vida
e a morte, a mais morte."


in A Menina que Roubava Livros

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Política - Arnold Toynbee


O maior castigo para aqueles que não se interessam por política,
é que serão governados pelos que se interessam.

Ainda espero - Verônica H


Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha.
Não quero andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago.
Eu acho que mereço mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém.
E fico só esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar,
um par de olhos que me faça ficar sem nenhuma palavra,
nada além de dois olhos se enlaçando quatro.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre escolhas - Irvin D Yalom


"Cada vez que você escolhe uma ação,
deve estar disposto a escolhê-la por toda a eternidade.
O mesmo se dá com cada ação não realizada,
cada pensamento natimorto, cada escolha evitada.
Toda a vida não vivida ficará latejando dentro de você,
invivida por toda a eternidade.
A voz ignorada de sua consciência continuará clamando para sempre.
(...)
Este momento existe para sempre e você sozinho é a sua platéia."

in Quando Nietzsche Chorou

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Coração e razão - Verônica H.


Eu me criei vazia e não soube preencher.
Mas sinto que ainda necessitando de distância e tempo pra pensar sozinha,
eu quero mesmo é que alguém me faça mudar completamente de opinião.
Que faça meu corpo querer companhia nos momentos em que minha mente insiste pela solidão. Que faça meu coração lutar contra minha razão que tanto toma conta de mim sem saber
se é isso mesmo que eu quero.

Agora - Verônica H

"Eu quis mudar o mundo, quis ser brilhante, quis ser reconhecida.
Hoje eu quero bem pouco e prefiro me concentrar no agora do que planejar um futuro incerto.
Eu me libertei da culpa e dei de cara com algo novo: não me encaixo, e aceito.
Não é justo perder as asas no momento em que se descobre tê-las.
É preciso poder voar, é preciso ter uma visão estratégica das janelas.
Ver o sol e não poder tê-lo é absurdo."

domingo, 12 de setembro de 2010

O passado no presente - Simone de Beauvoir

Descobri a doçura de ter atrás de mim um longo passado.
Não tenho o tempo de me narrar, mas às vezes, de improviso,
eu o vejo em transparência ao fundo do momento presente:
ele lhe dá sua cor, sua luz,
como as rochas e as areias se refletem na cintilação do mar.
Antigamente, eu me embalava com projetos, com promessas.
Agora, a sombra dos dias mortos aveluda-me emoções e prazeres.


in “A mulher desiludida”

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Auto-confiança - Goethe





"Assim que você confiar em si mesmo,

você saberá como viver."

Simplicidade feminina - Danusa Leão

"Os homens não entendem as mulheres. Por que será? Elas são seres simples, e basta prestar um pouquinho de atenção para saber o que passa em suas mentes. Mas, como elas não costumam dizer o que sentem, e eles não costumam perguntar, permanece a incompreensão. Para começar, uma mulher precisa, acima de tudo, se sentir desejada o tempo todo.
Nada lhe agrada mais do que entrar num restaurante e sentir que todos olham para ela.
Mulher sente isso no ar, e tem mais: não é necessário que seja um homem ao qual ela dedicaria ao menos um minuto de seus pensamentos. Se uma mulher receber o galanteio de um feirante - não que eles sejam os reis da sutileza ou, aliás, por isso mesmo -, se acha o máximo.
E existem algumas que, quando estão com o moral baixo, vão dar uma volta no centro comercial da cidade, onde os homens são mais sensíveis ao charme feminino. Bem mais, seguramente, do que nos desfiles de moda.
A obrigação de um homem é desejar a mulher que está com ele. Uma amiga me contou que se encontrou com um conhecido num avião e logo depois da decolagem ele perguntou, à queima-roupa, se ela queria transar com ele.
Ela - no mínimo pelo inesperado da pergunta - nem soube o que responder.
Concluiu o cavalheiro:
"Bem, eu já fiz minha obrigação, então não se fala mais nisso''. Um gênio, convenhamos.
Uma das coisas que os homens não sabem, e jamais saberão, é como agir depois da primeira transa. Vamos supor que tenha sido na casa dele. Quando ela acorda e abre os olhos, a primeira coisa em que pensa é: "Ai, meu Deus, e agora?" Levanta-se na ponta dos pés, recolhe os sapatos, a bolsa, as meias, esquece os brincos, claro, e sai de mansinho para que ele não acorde.
Nessa hora só quer chegar em casa. Depois de tomar um banho, a cabeça começa a clarear e ela não sabe se muda de cidade, só para não encontrá-lo. O telefone fica na secretária de medo que seja ele - Deus a livre. A noite chega e ela começa a ficar nervosa. Não quer vê-lo nunca mais, mas ele tinha obrigação de ligar. Mas nada. Ah, que ódio. Ela tenta justificar. Afinal, saiu sem nem deixar um bilhete. Mas, bem lá no fundo, ela não entende como, depois de tudo o que aconteceu, ele não entra porta adentro dizendo: "Eu tinha que te ver".
Pelo sim, pelo não, põe um jeans, uma camiseta e faz um rabo-de-cavalo para bancar a simplesinha se ele aparecer. Mas nada. A coisa começa a ficar preta. A não ser que ele tenha sofrido um infarto, nada explica esse silêncio. Se ele não der uma demonstração rápida de que aquela ficará como a noite mais inesquecível de sua vida, por mais moderna e liberada que ela seja, vai odiar es se homem como só uma mulher é capaz. Ao mesmo tempo, daria tudo na vida para que ele telefonasse. Afinal, charmoso ele é. Mas, como seu prazo emocional está no limite, se ele ligar vai tratá-lo como se trata um cachorro. Elas são assim.
Mas vocês, homens, ainda não aprenderam? Custa ligar? Nem que seja para dizer que ela esqueceu os brincos?"

O dinheiro - Augusto Cury

" o dinheiro compra ansiolítico, mas não a capacidade de relaxar.
Compra bajuladores, mas não o ombro de um amigo.
Compra jóias, mas não o amor de uma mulher.
Compra um quadro de pintura, mas não a capacidade de contemplar.
Compra seguros mas não a habilidade de proteger a emoção.
Compra informação, mas não o auto-conhecimento.
Compra lentes de contato, mas não a capacidade de ver os sentimentos não expressos,
O dinheiro compra um manual de regras para educar quem amamos,
mas não compra um manual de vida."

in O Vendedor de Sonhos, e a Revolução dos Anônimos

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Recordo ainda... - Mário Quintana


Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O tempo presente - Drummond


O tempo é a minha matéria,

do tempo presente,

os homens presentes,

a vida presente."


in Mãos dadas

domingo, 5 de setembro de 2010

Renascer - Sophia M B Andresen

“Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.”

Minha desordem - Hilda Hist

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
colada à tua boca, mas escomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te
ôfrega
Como se fosses morrer colado à
minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do
amanhecer.

sábado, 4 de setembro de 2010

Sucesso - George Patton

“O teste do sucesso não é o que você faz quando está por cima.
Sucesso é que altura você atinge quando dá a volta por cima
depois de chegar ao fundo do poço”.

Coração - Ana Jácomo

"O coração da gente gosta de atenção.
De cuidados cotidianos. De mimos repentinos.
De ser alimentado com iguarias finas, como a beleza, o riso, o afeto.
Gosta quando espalhamos os seus brinquedos no chão e sentamos com ele para brincar.
E há momentos em que tudo o que ele precisa
é que preparemos banhos de imersão na quietude para lavarmos,
uma a uma, as partes que lhe doem.
É que o levemos para revisitar, na memória,
instantes ensolarados de amor capazes de ajudá-lo a mudar a freqüência do sentimento.
Há momentos em que tudo o que precisa
é que reservemos algum tempo a sós com ele para desapertá-lo com toda delicadeza possível. Coração precisa de espaço."

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Das necessidades - Lygia Fagundes Telles

“Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: Necessidade neurótica de agradar os outros.
Necessidade neurótica de poder.
Necessidade neurótica de explorar os outros.
Necessidade neurótica de realização pessoal.
Necessidade neurótica de despertar piedade.
Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade.
Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida
– ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos.
E algumas feministas radicais. Tão difícil a vida e seu ofício.
E ninguém ao lado para receber a totalidade dos seres humanos,
isso nos últimos anos da sua vida sem muita ilusão......
A minha tiazinha falava muito na falta que lhe fazia esse ombro amigo, apoio e diversão, envelheceu procurando um. Não achou nem o ombro nem as partes, o que a fez chorar sentidamente na hora da morte.
- Mas o que você quer, queridinha?! a gente perguntava.
- Está com alguma dor? Não, não era dor.
- Quer um padre? Não, não queria mais nenhum padre, chega de padre.
Antes do último sopro, apertou desesperadamente a primeira mão ao alcance:
“É que estou morrendo e não me diverti nada!””


in " A Disciplina do amor"

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Metamorfose - Rubem Alves

"A alma é uma borboleta...
há um instante em que uma voz nos diz
que chegou o momento de uma grande metamorfose..."

Para refletir - Milton Nascimento

"Se muito vale o já feito, mais vale o que será. E o que foi feito.
É preciso conhecer para melhor prosseguir. "

Heróis e vilões - Lygia F Telles

"Não separe com tanta precisão os heróis dos vilões,
cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química.
Não há gente completamente boa nem gente completamente má,
está tudo misturado e a separação é impossível.
O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta.
Às vezes a gente melhora. Mas passa ... E que interessa o castigo ou o prêmio? ...
Tudo muda tanto que a pessoa que pecou na véspera
já não é a mesma a ser punida no dia seguinte."

Calmaria - Elizabeth Gilbert

“O eixo da calmaria é o teu coração.
É aí que Deus vive dentro de ti.
Portanto, pára de procurar respostas no mundo.
Limita-te a regressar a esse centro e aí encontrarás a paz.”

in Comer, Rezar e Amar.