sábado, 25 de setembro de 2010

Sozinho e vivo - Bernardo Soares


"Escrevo, triste, no meu quarto quieto,
sozinho como sempre tenho sido,
sozinho como sempre serei.
E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa,
não encarna a substância de milhares de vozes,
a fome de dizerem-se de milhares de vidas,
a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano,
ao sonho inútil, à esperança sem vestígios.
Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele.
Vivo mais porque vivo maior."

Do Livro do Desassossego
(Bernardo Soares foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa).

Um comentário:

João A. Quadrado disse...

[caber numa mão, condensar num quarto os todos os continentes, os trabalhos, o lado escuro do dia que o poeta transporta, em desassossego constante... brilhante]

um imenso abraço, Adélia

Leonardo B.