terça-feira, 31 de março de 2009

Amar - Mário Quintana


Amar:
Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados
desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.

sábado, 28 de março de 2009

Sobre o livro - Gibran K Gibran


Um livro é como uma janela.
Quem não o lê,
é como alguém que ficou distante da janela
e só pode ver uma pequena parte da paisagem.

Relacionamentos - Roberto Crema


Ninguém muda ninguém;
ninguém muda sozinho;
nós mudamos nos encontros.
Simples, mas profundo, preciso.
É nos relacionamentos que nos transformamos
Somos transformados a partir dos encontros,
desde que estejamos abertos e livres
para sermos impactados
pela idéia e sentimento do outro.

Trechinho Rubem Alves

Aquilo que está
escrito no coraçao
não necessita de agendas
porque a gente não esquece.
O que a memória ama fica eterno.

O valor das pequenas coisas - Roque Schneider

Em cada indelicadeza, assassino um pouco aqueles que me amam.
Em cada desatenção, não sou nem educado, nem cristão.
Em cada olhar de desprezo, alguém termina magoado.
Em cada gesto de impaciência, dou uma bofetada invisível nos que convivem comigo.
Em cada perdão que eu negue, vai um pedaço do meu egoísmo.
Em cada ressentimento, revelo meu amor-próprio ferido.
Em cada palavra áspera que digo, perdi alguns pontos no céu.
Em cada omissão que pratico, rasgo uma folha do evangelho.
Em cada esmola que eu nego, um pobre se afasta mais triste.
Em cada oração que não faço, eu peco.
Em cada juízo maldoso, meu lado mesquinho se aflora.
Em cada fofoca que faço, eu peco contra o silêncio.
Em cada pranto que enxugo, eu torno alguém mais feliz.
Em cada ato de fé, eu canto um hino à vida.
Em cada sorriso que espalho, eu planto alguma esperança.
Em cada espinho, que finco, machuco algum coração.
Em cada espinho que arranco, alguém beijará minha mão.
Em cada rosa que oferto, os anjos dizem: Amém!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Esperança - Clarice Lispector

Esperança é como o girassol,
que à toa se vira em direção ao sol.
Mas não é à toa:
virar-se para o sol
é um ato de realização de fé.

Tocando no coração - Chico Buarque

Há certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim, todo o meu peito se apertar
Porque parece, que acontece de repente,
Como um desejo, de eu viver sem me notar...
Igual a como, quando eu passo no subúrbio,
E muito bem, vindo de trem, de algum lugar,
E aí me dá, uma inveja dessa gente,
Que vai em frente, sem nem ter com quem contar.
São casas simples, com cadeiras na calçada,
E na fachada, escrito em cima, que é um lar!
Pela varanda, flores simples e baldias,
Como a alegria de não ter como lutar.
E eu que não creio, peço a Deus, por minha gente,
É gente humilde, que vontade de chorar...

A um ausente - Carlos Drummond de Andrade


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Tão sutilmente em tantos breves anos - Lya Luft


Tão sutilmente em tantos breves anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um, sem que no entanto
deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe
o pó de um cotidiano desencanto.
Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca.
- Do livro "Secreta Mirada", pág. 151.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sobre o amor - Carlos Drummond de Andrade

Tão imperfeitas,
nossas maneiras de amar.
Quando alcançaremos
o limite, o ápice de perfeição,
que é nunca mais morrer,
nunca mais viver
duas vidas em uma,
e só o amor governe
todo além, todo fora de nós mesmos?
O absoluto amor,
revel à condição de carne e alma.

Trechinho de Mário Quintana


Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece…
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto...

Sobre oportunidades - Amyr Klink


Já ancorado na Antártida, ouvi ruídos que pareciam de fritura.
Pensei: Será que até aqui existem chineses fritando pastéis ???
Eram cristais de água doce congelada que faziam aquele som quando entravam em contato com a água salgada. O efeito sonoro e visual era belíssimo!
Pensei em fotografar, mas falei para mim mesmo:
- 'Calma, você terá muito tempo para isso...'
Nos 367 dias que se seguiram, o fenômeno não se repetiu.
Algumas oportunidades são únicas...
Como diz o Dalai Lama:
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito.
Um se chama ONTEM e o outro AMANHÃ.
Portanto HOJE é o dia certo para AMAR, ACREDITAR, SER SINCERO, HONESTO, VERDADEIRO, FAZER e principalmente VIVER'

quarta-feira, 25 de março de 2009

Um poema - Mário Quintana

Um poema
como um gole d'água
bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como pequenina moeda de prata
perdida para sempre na floresta noturna.
Um poema sem outra angústia
que a sua misteriosa condição de poema.
Triste
Solitário
Único
Ferido de mortal beleza.

Ausência - Carlos Drummond de Andrade

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Não sei se é sonho - Fernando Pessoa











Não sei se é sonho,
se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sol se olvida.
É a que ansiamos.
Ali, ali A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser.
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós?
Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo.
É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.

Cansaço - Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Trecho do "O Livro do Desassossego" - Bernardo Soares


A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o hermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seua domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior porque a morte o libertou.Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de exelcis.Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão ter-me doído.

Viver sempre também cansa ! - José Gomes Ferreira

Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azulora é azul,
nitidamente azul
,ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis,
sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saberque tu velavas,
meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordara
Morte ainda menina no meu colo...

terça-feira, 24 de março de 2009

Basta pensar em sentir - Fernando Pessoa

Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar de andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.
Viver é não conseguir.

Não posso - Antonio Ramos Rosa


Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.

Pressupostos que ajudam a enfrentar desafios - Eduardo Carmello


As pessoas não são perturbadas pelas coisas em si, mas pela idéia que fazem delas.
Cada um de nós reage aos fatos da vida e se explica de maneira diferente. É a nossa consciência que gera nosso modelo de visão de mundo e define como reagimos às inúmeras situações que a vida nos proporciona.
O teólogo inglês William Ward nos dá uma idéia desse conceito ao demonstrar as diferentes reações que um navegador pode ter em alto-mar ao se deparar com ventos desfavoráveis. Ele diz: “o pessimista queixa-se do vento; o otimista espera que ele mude, e o realista ajusta as velas”.
Portanto, toda limitação está na observação da situação ou na forma de enfrentar a adversidade. Ou seja, o peso e o tamanho do problema são definidos pelo grau de importância dado a ele versus a forma como os recursos disponíveis são reconhecidos.
Ao conferir ao problema alto grau de importância e reconhecer como insuficientes os recursos de que dispomos, criamos limitações; e aí, o problema passa a ter dimensão bem maior do que a real.
Portanto, quanto mais opções e recursos temos, maior a possibilidade de enfrentar e superar situações adversas. Para tanto é preciso:
- saber adaptar-se a mudanças e situações ambíguas;
- ser capaz de recuperar-se de esgotamentos, exaustão ou traumas;
- conseguir manter a calma, clareza de propósito e orientação em situações adversas, e;
- ser capaz de pensar estrategicamente e tomas decisões acertadas mediante pressão.
do livro “Supere! – A arte de lidar com as adversidades”

domingo, 22 de março de 2009

Sobre transformação - Dalai Lama

Uma árvore em flor fica despida e despojada de suas folhas no outono.
A beleza transforma-se em feiúra,
a juventude transforma-se em velhice,
e os erros em virtudes.
As coisas não permanecem sempre as mesmas e nada existe realmente,
as aparências e o vazio existem de forma simultânea.

Dalai Lama do livro "O livro de Dias"

sábado, 21 de março de 2009

Lembro-me bem do seu olhar - Álvaro de Campos

Lembro-me bem do seu olhar.
Ele atravessa ainda a minha alma.
Como um risco de fogo na noite.
Lembro-me bem do seu olhar. O resto...
Sim o resto parece-se apenas com a vida.

Ontem, passei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as montras despreocupadamente
E não encontrei amigos com quem falar.
Tão triste que me pareceu que me seria impossivel
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossivel viver amanhã e mais nada.

Fumo, sonho, recostado na poltrona.
Dói-me viver como uma posição incómoda.
Deve haver ilhas lá para o sul das coisas
Onde sofrer seja uma coisa mais suave.
Onde viver custe menos ao pensamento,
E onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
E acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.

Abrigo no peito, como a um inimigo que temo ofender,
Um coração exageradamente espontâneo
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real,
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta.

Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Para refletir - Dalai Lama

"Se existe amor, há também esperança de existirem verdadeiras famílias, verdadeira fraternidade, verdadeira igualdade e verdadeira paz. Se não há mais amor dentro de você, se você continua a ver os outros como inimigos, não importa o conhecimento ou o nível de instrução que você tenha, não importa o progresso material que alcance, só haverá sofrimento e confusão no cômputo final. O homem vai continuar enganando e subjugando outros homens, mas insultar ou maltratar os outros é algo sem propósito. O fundamento de toda prática espiritual é o amor. Que você o pratique bem é meu único pedido. "

Presença - Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que,
apenas,
levemente,
o vento das horas
ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência
trescale sutilmente,
no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim
desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também,
que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra
e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

quinta-feira, 19 de março de 2009

A noite na Ilha - Pablo Nerruda

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão, vinho, amor e cólera - te dou,
cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braçorodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei,
e tua boca saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

Poema em linha reta - Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas
,Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ser, parecer - Mia Couto



Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida

Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.

Nocturnamente - Mia Couto

Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo

Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio
Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces...

Pergunta-me - Mia Couto

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Confidência - Mia Couto

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suamente pronunciares o meu nome.

terça-feira, 17 de março de 2009

Palavras sábias de Gibran K Gibran


"Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Enchei a taça um do outro, mas não bebais da mesma taça.
Dai do vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho.
As cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.
Dai vosso coração, mas não o confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter vosso coração.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente.
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente.
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro".

segunda-feira, 16 de março de 2009

Uma pitada de Exupéry

É uma coisa impressionante, a idade de um homem! Resume toda a sua vida.
A maturidade que ele adquire se faz lentamente.
Ela se faz a despeito de obstáculos vencidos, de tantas doenças graves curadas,
tantas penas acalmadas, tantos desesperos suplanados,
tantos riscos cuja maior parte escapou à consciência.
Ela se faz através de desejos, esperanças, lamentos, esquecimento, amor.
A idade de um homem representa uma bela carga de experiências e lembranças!


Saint-Exupéry em Escritos de Guerra.

domingo, 15 de março de 2009

A tristeza permitida - Martha Medeiros

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com álguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as razões tem essa mania de serem discretas.


Martha Medeiros, do livro Doidas e Santas - pag. 22

quinta-feira, 12 de março de 2009

Frase de Lya Luft - essencial !!!



Não pertenço a nenhum grupo...

Gosto de ser livre!

terça-feira, 10 de março de 2009

Capacidade de explorar o mundo interior - Roberto Shinyashiki

Ficar em silêncio ajuda muito a escutar a voz da sua alma.
Você já ouviu a opinião de muitos autores a respeito da importância de seguir o seu coração. Eles têm razão: um caminho que não fale ao seu coração não alimentará a sua alma; e uma pessoa sem alma é um ser perdido no oceano da vida.A exploração do nosso mundo interior ajuda a nos conhecer melhor e, portanto, a construir uma vida que tenha sentido. Fico muito triste quando converso com pessoas ricas e importantes que me confessam, quase chorando: é horrível ver que batalhei e consegui tantas coisas que queria, mas não sou feliz. O meu sacrifício não me deu felicidade.
É importante escutar a nós mesmos o tempo todo, para saber se estamos realizando objetivos que nascem do nosso coração. Só assim teremos certeza de que, no final da vida, não iremos nos martirizar com o arrependimento.
- Mas, Roberto, como conhecer a minha alma? Como escutar o meu coração? Bem, a primeira dica é: faça a pergunta certa. Quando você faz a pergunta errada, o seu coração vai para muito longe. Quer um exemplo de pergunta errada? Suponha que o seu chefe foi duro com você e apontou vários problemas de desempenho no seu trabalho. Se você perguntar a si mesmo: “Por que meu chefe está me sacaneando?”, não vai encontrar uma resposta que lhe ajude a crescer.
Sentir-se vítima do seu chefe, em vez de analisar o próprio trabalho, vai deixar você distante da resposta que lhe interessa. Nesse momento o melhor é olhar para dentro de si, verificar em quais pontos o seu chefe tem razão, analisar suas atitudes e tentar melhorar o seu desempenho. Seu namorado terminou o relacionamento com você. Em vez de perguntar por que ele a sacaneou, seria mais interessante entrar em sintonia com os próprios sentimentos. Se a tristeza aparecer, o melhor é chorar em paz, e só depois analisar seu comportamento.
Talvez você se dê conta de que estava sendo muito crítica com seu namorado e, a partir daí, aprenda a admirar mais a pessoa que você ama, percebendo com isso o que pode melhorar em sua maneira de demonstrar amor.Se você fizer as perguntas certas, conseguirá aprender muito sobre si mesmo. Faça suas perguntas, mesmo que elas fiquem muito tempo sem resposta:
• O que é essencial para você?
• Qual é a sua meta profissional?
• Como gostaria de estar daqui a dez anos?
• O que você precisa fazer para realizar seus projetos?
• A sua vida está do melhor jeito que poderia estar neste momento?
A capacidade de explorar nosso mundo interior nos ajuda a tomar melhores decisões e a evitar problemas decorrentes da nossa maneira de ser. Quando tinha aproximadamente 20 anos eu era o rei das decisões impulsivas. Decidia comprar alguma coisa sem pensar e alguns dias depois tomava consciência de que tinha feito besteira.
Depois de algum tempo decidindo errado, prometi a mim mesmo que sempre me daria um prazo de uma semana para pensar antes de comprar qualquer coisa mais cara. Isso evitou que eu fizesse muitas bobagens. Conhecer-se melhor pode ajudá-lo a tomar decisões que lhe façam realmente crescer. Certa vez um deputado que gostava muito do meu trabalho telefonou-me e convidou-me a assumir um cargo de diretor de um importante hospital público. Consegui pedir a ele um prazo de um dia antes de lhe dar a resposta, o que foi um grande sacrifício, pois a minha vontade era dizer sim na hora.
Fiquei pensando sobre o assunto e me dei conta de que aceitar o convite para cuidar de um hospital não tinha o menor sentido, considerando a minha vocação de psiquiatra. O que eu gostava mesmo era de escutar as pessoas e ajudá-las a se realizar. Foi um alívio quando, no dia seguinte, liguei para dizer “não, obrigado!”. Minha alma celebrou a minha decisão. Algumas vezes, sua rota precisa ser reajustada e você só descobrirá isso se souber conversar consigo mesmo. Ficar em silêncio ajuda muito a escutar a voz da sua alma.
Sabe quando rastreamos todos os arquivos e pastas do computador em busca de alguns vírus que possam ter invadido o sistema? Sabe quando navegamos pela internet e mantemos o antivírus acionado para impedir a entrada de elementos suspeitos? Na vida real, o autoconhecimento é nosso melhor antivírus. Para que você não perca todos os seus documentos nem tenha de configurar novamente sua máquina, pergunte-se sempre o que realmente importa em cada momento de sua vida.

pensamento de Rosseau

"Em todos os males que nos acontecem,
olhamos mais para a intenção do que para o efeito"

segunda-feira, 9 de março de 2009

Bomba - Martha Medeiros

Aquele amor poderia ter me matado
como mata centenas de mulheres por aí
certos amores não passam
de uma bomba a ser desativada a tempo.

domingo, 8 de março de 2009

Ressentimentos - por André Luiz


Sim, você recebeu um tratamento péssimo daquele cliente, daquele namorado, do professor, do seu marido, dos seus pais, dos seus filhos, dos vizinhos, do seu chefe, dos seus colegas, dos amigos, críticos, do cachorro…
Você tem toda razão em ter sentido mágoa, tristeza e desapontamento quando isso aconteceu.
Mas sentir tais coisas só tem lógica se for naquele momento. Nunca mais. Se você está, ainda hoje, sentindo essa decepção, essa tristeza, essa mágoa com outra pessoa, então você está ressentido, com ela. Veja com atenção o significado da palavra ressentimento: RE-SENTIMENTO. Sentir novamente; Sentir infinitamente, para alguns.
Qual a razão de usar sua mente para sentir novamente coisas ruins, fragilidades e decepções? Sentir coisas ruins novamente não tem absolutamente nenhuma função, exceto prender você ao passado e tornar você uma eterna vítima de alguém que nem mesmo está tentando prejudicar você mais.
Ao guardar qualquer ressentimento você está se acorrentando a alguém que lhe fez mal, mesmo que essa pessoa não queira mais isso.
Você está re-sentindo a dor que só existe em sua memória.
A outra pessoa, por pior que tenha sido, não será prejudicada por seu ressentimento.Mas você será.
Você desperdiçará momentos únicos das suas vinte e quatro horas para pegar o punhal que alguém usou contra você há semanas, meses, anos ou décadas atrás e, acredite ou não, você mesmo estará se apunhalando dia-após-dia,com seu re-sentimento.
Se o caso for tão grave que tenha que ser resolvido em tribunais, deixe advogados cuidando disso e se concentre em sua vida e sua felicidade.Não caia na armadilha do ressentimento.
Viva o momento que estiver vivendo.
Esqueça as coisas ruins do passado.Ele não existe mais.
E, se mesmo com toda a lógica do mundo, você ainda estiver “sentindo re-sentimento” e mágoa de alguém, lembre-se do que disse William Shakespeare:
“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra. "

quarta-feira, 4 de março de 2009

Os portais do Inferno / Os portais do Paraíso - Osho

Paraíso e Inferno não são locais geográficos, são psicológicos, são a sua psicologia. Paraíso e Inferno não se encontram no final de sua vida, estão aqui e agora. A cada momento os portões se abrem. A cada momento você está cambaleando entre o Paraíso e o Inferno. É uma questão que se coloca a cada momento, é urgente.
Em um único momento você pode se mover do Inferno ao Paraíso, do Paraíso ao Inferno.
Ambos estão dentro de você.
Os portões estão muito próximos um do outro: com a mão direita você pode abrir um deles, com a mão esquerda você pode abrir o outro. Com uma simples mudança de sua mente, seu ser se transforma - do Paraíso ao Inferno, do Inferno ao Paraíso.
Sempre que você age inconscientemente, sem percepção, está no Inferno. Sempre que está consciente, sempre que age com completa percepção, está no Paraíso.

Eu sou vertical - Silvia Plath

Mas não que não quisesse ser horizontal.
Não sou árvore com minha raiz no solo
Sugando minerais e amor materno
Para a cada março refulgir em folha,
Nem sou a beleza de um canteiro
Colhendo meu quinhão de Ohs e me exibindo em cor,
Desconhecendo que me despetalo em breve.
Comparados a mim, uma árvore é imortal
E um pendão nada alto, embora mais assombroso,
O que eu quero é a longevidade de uma e a audácia do outro.
À luz infinitesimal das estrelas,
Flores e árvores trescalam seus frios perfumes.
Eu me movo entre elas, mas nenhuma me nota.
Chego a pensar que pareço o mais perfeitamente
Com elas quando estou dormindo —
Os pensamentos esmaecem.
É mais natural para mim deitar.
Céu e eu então animamos a prosa,
Hei de servir no dia em que deitar afinal:
E as árvores aí talvez em mim tocassem
e as flores comigo se ocupassem.

terça-feira, 3 de março de 2009

Um trecho do Zahir - Paulo Coelho

"Finalmente, explicou-me que o sofrimento nasce quando esperamos que os outros nos amem da maneira que imaginamos, e não da maneira com que o amor deve se manifestar - livre, sem controle, nos guiando com sua força, nos impedindo de parar."

Flexibilidade e desenvolvimento pessoal - Albert Einsten

Flexibilidade é uma questão de desenvolvimento pessoal,
amadurecimento e alfabetização emocional.
A pessoa flexível é uma pessoa que sabe muito bem identificar objetivos relevantes e manter o foco, independentemente de crise ou de situações contrárias.
"Não pretendemos que as coisas mudem se sempre fazemos o mesmo".
A crise é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países,
porque a crise traz progressos.
A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura.
É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias.
Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado".
Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que às soluções.
A verdadeira crise é a crise da incompetência.
O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia.
Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um.
Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo.
Em vez disso, trabalhemos duro.
Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora,
que é a tragédia de não querer lutar para superá-la"

segunda-feira, 2 de março de 2009

Um clássico de Fernando Pessoa


"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!
Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."