sexta-feira, 20 de março de 2009

Presença - Mário Quintana

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que,
apenas,
levemente,
o vento das horas
ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência
trescale sutilmente,
no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim
desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também,
que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra
e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

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