quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Fragilidade - Carlos D de Andrade

Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita,
a música feita de depurações e depurações,
a delicada modelagem de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos:
não mais que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.

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