sábado, 19 de abril de 2014

A volta - Flora Figueiredo





Você tampa a panela, dobra o avental, deixa a lágrima secar no arame do varal. 
Fecha a agenda, adia o problema, atrasa a encomenda, guarda insucessos no fundo da gaveta.
A ideia é tirar a tarja preta e pôr o dedo onde se tem medo.
Você vai perceber que a gente é que faz o monstro crescer.
Em seguida superar o obstáculo, pois pode-se estar perdendo um espetáculo acontecendo do outro lado.
Atravessar o escuro até conseguir tatear o muro, que é o limite da claridade.
Se tiver capacidade para conquistá-la, tente retê-la o mais que puder.
Há que ter habilidade, sem esquecer que a luz é mulher.
Do inferno assim desmascarado, é hora de voltar.
Não importa se é caminho complicado, se a curva é reta, ou se a reta entorta.
Você buscou seu brilho, voltou completa;
jogou a tranca fora, abriu a porta.