segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Nas primeiras horas, o crepúsculo tem folhas verdes - Carpinejar

Minha amiga pede o que deve fazer para exercitar a liberdade por dentro.
Eu digo que não precisamos de liberdade. A única liberdade que eu conheço é o amor.
E o amor nos faz tão rentes, estreitos e com pensamentos repetitivos, obsessivos, que mais lembra um confinamento da boca.
Há atitudes na vida impossíveis de se alterar, porque são intuitivas, primitivas, originárias.
Uma criança com febre vai querer permanecer próximo da mãe, não do pai, por mais que ele seja generoso e participativo. Não queremos a soltura, mas o entrelaçamento, algo que nos arranque de nossa independência. Algo que a gente não explique e aumente a queimadura.
Eu passei a vida querendo me explicar quando o que mais desejo é viver sem explicação.
Prefiro perder a cabeça para ganhar o corpo.
Quando se ama, entra-se no processo de audição seletiva. Só se escuta a própria voz ou os outros quando repetem o que pretendíamos escutar.
As mãos chovem nas calhas dos lábios. O pássaro é um fruto que voa.
Ele voa para não apodrecer sozinho. Há cidades que o vento escolhe para envelhecer.
Há cidades que são asilos de ventos. Eu quero envelhecer ardendo. O sol parando o gomo.
Ser completado pelo solo de quem amei verdadeiramente até nas mentiras.

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