Volta e meia me pego falando coisas em que nem eu mesma acredito.
Por exemplo, costumo dizer por aí que mantenho meus pés no chão,
que não sou de delirar, de procurar cabelo em ovo, essas coisas.
Pés no chão, pés no chão.
Sempre falo isso com um misto de orgulho e ao mesmo tempo de estranhamento.
O orgulho até entendo – pés no chão é uma metáfora para sensatez, lucidez.
O estranhamento eu compreendi recentemente, quando li uns versos do norueguês Tor Age Bringsvaerd, que descobri serem até manjados, mas que eu não conhecia:
quem mantém os dois pés no chão/não sai do lugar. Está aí o que me incomodava.
Desde então, fico me perguntando o que os meus dois pés no chão têm me trazido de bom. Trouxeram a consciência de que não sou melhor nem pior do que ninguém, que faço o que posso. Os pés no chão me fizeram reconhecer minhas limitações e a não criar expectativas mirabolantes em relação a nada. Me fizeram desenvolver um olho clínico para detectar exibicionistas, arrogantes e toda espécie de gente que “se acha”, e que me causam verdadeiro tédio.
É o que me trouxeram meus dois pés no chão, tanto o esquerdo quanto o direito.
O que eles podem me tirar é que me assusta.
Não tenho vocação para a permanência eterna, para nada eterno. Não mais. Tinha quando era uma menina e não fazia ideia de que estar em movimento não era sinônimo de indecisão, e sim de sabedoria. Para frente, para trás ou para os lados: não importa a direção, o que vale é a troca de paisagem. O ângulo novo. As coisas que a gente não enxergava antes, quando estava parado.
Ao tirar os dois pés do chão, permito que as certezas me abandonem e me concedo o direito ao mistério. Não fico mais tão segura de nada, e assim abro espaço no cérebro para diversas especulações – que me levarão aonde? Não sei.
O “não sei” pode, sem querer, nos apontar um caminho bem legítimo.
Tirando os pés do chão, volto a sonhar, eu que havia trocado sonhos por objetivos.
Já não sou criança para temer que essa “levitação” me faça cometer bobagens.
Vai ver é de bobagens mesmo que estou precisando.
Manter os pés no chão exige contração, concentração. Não é relaxante. Para sair da posição de sentido, preciso me desapegar, me desprender: será isso ruim? Não quero mais em mim uma postura militar, uma cabeça de sargento, ao menos não todo o tempo.
Preciso encontrar em mim a recruta também, o soldado que cumpre as regras, porém, debocha do general quando ele não está vendo.Vou manter meus pés no chão, porque delirar todo o tempo não é possível, não quando se tem responsabilidades adquiridas.
O orgulho da consciência ainda habita em mim. Mas ficar cravada no solo, para sempre, não dá. Como diz o norueguês, não se vai a lugar algum, então, que eu me desloque ao menos em pensamentos, em vertigens mentais, em piruetas audaciosas que me façam pousar alguns metros adiante, lá onde se consegue olhar para trás e descobrir o bem que fizemos ao mudar.
Por exemplo, costumo dizer por aí que mantenho meus pés no chão,
que não sou de delirar, de procurar cabelo em ovo, essas coisas.
Pés no chão, pés no chão.
Sempre falo isso com um misto de orgulho e ao mesmo tempo de estranhamento.
O orgulho até entendo – pés no chão é uma metáfora para sensatez, lucidez.
O estranhamento eu compreendi recentemente, quando li uns versos do norueguês Tor Age Bringsvaerd, que descobri serem até manjados, mas que eu não conhecia:
quem mantém os dois pés no chão/não sai do lugar. Está aí o que me incomodava.
Desde então, fico me perguntando o que os meus dois pés no chão têm me trazido de bom. Trouxeram a consciência de que não sou melhor nem pior do que ninguém, que faço o que posso. Os pés no chão me fizeram reconhecer minhas limitações e a não criar expectativas mirabolantes em relação a nada. Me fizeram desenvolver um olho clínico para detectar exibicionistas, arrogantes e toda espécie de gente que “se acha”, e que me causam verdadeiro tédio.
É o que me trouxeram meus dois pés no chão, tanto o esquerdo quanto o direito.
O que eles podem me tirar é que me assusta.
Não tenho vocação para a permanência eterna, para nada eterno. Não mais. Tinha quando era uma menina e não fazia ideia de que estar em movimento não era sinônimo de indecisão, e sim de sabedoria. Para frente, para trás ou para os lados: não importa a direção, o que vale é a troca de paisagem. O ângulo novo. As coisas que a gente não enxergava antes, quando estava parado.
Ao tirar os dois pés do chão, permito que as certezas me abandonem e me concedo o direito ao mistério. Não fico mais tão segura de nada, e assim abro espaço no cérebro para diversas especulações – que me levarão aonde? Não sei.
O “não sei” pode, sem querer, nos apontar um caminho bem legítimo.
Tirando os pés do chão, volto a sonhar, eu que havia trocado sonhos por objetivos.
Já não sou criança para temer que essa “levitação” me faça cometer bobagens.
Vai ver é de bobagens mesmo que estou precisando.
Manter os pés no chão exige contração, concentração. Não é relaxante. Para sair da posição de sentido, preciso me desapegar, me desprender: será isso ruim? Não quero mais em mim uma postura militar, uma cabeça de sargento, ao menos não todo o tempo.
Preciso encontrar em mim a recruta também, o soldado que cumpre as regras, porém, debocha do general quando ele não está vendo.Vou manter meus pés no chão, porque delirar todo o tempo não é possível, não quando se tem responsabilidades adquiridas.
O orgulho da consciência ainda habita em mim. Mas ficar cravada no solo, para sempre, não dá. Como diz o norueguês, não se vai a lugar algum, então, que eu me desloque ao menos em pensamentos, em vertigens mentais, em piruetas audaciosas que me façam pousar alguns metros adiante, lá onde se consegue olhar para trás e descobrir o bem que fizemos ao mudar.
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