segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Fim ou transformação do amor - Fernanda Young

- Mas qual é a vantagem de fingir que não há o problema?
- Quando ele é insolúvel, a vantagem é que você não terá que resolver algo que não tem como ser resolvido.
- Tipo o quê?
- Tipo o fim do amor. Para os mais jovens, o fim do amor pode ser resolvido com o término do casamento. Inclusive, acho isso uma grosseria... Isso que não entendo nesse assunto de abismo... desculpa, filha, mas abismo é viver. Não estamos à beira dele, estamos nele. E todo mundo age como se fosse um herói por contornar crises, por meio do debate, ou não. Todo mundo vai fazer análise, justamente para não olhar para a pessoa ao lado e dizer: eu tenho vontade de vomitar quando escuto os teus passos. E isso não se diz numa conversa. Você não pode virar para a mãe dos seus filhos e falar: "olha, eu não te odeio, te desejo tudo de melhor , mas eu não te amo mais." Sem que isso venha cheio de acusações. Quando, no fundo, no fundo o amor não dura.
E nem me venham em falar que o que não dura é paixão. A idéia do amor está lá, faz parte da nossa cultura, essa tal transformação do amor. Podemos dizer: eu não te amo como te amei,
mas esse amor se transformou, e eu amo ver televisão com você, eu amo saber que, se eu tiver um treco e ficar todo cagado, você me limpará. Isso é que é indiscutível.
O amor não se transforma, ele se esgota, e a gente vai levando, por vários motivos.
E, saibam, muitos desses motivos não são nada nobres.


in "Tudo que você não soube"

Um comentário:

Renato Alexandre disse...

Nossa Fernanda...meu brilhante seu texto !
adorei...achei seu blog agora ja to seguindo, curti de mais.
Espero uma visita sua tbm viu...beijos querida, Rê !