terça-feira, 4 de maio de 2010

Lanterna de papel - Cecília Meirelles

Trago esta imagem para te dar:
és, sob um fio tênue, lanterna de papel que o vento balança.
A noite vem repentinamente escurecer as coisas. De dia o sol descobre tuas cores aparentes. Tem cuidado, para que, à noite, seja a tua presença reconhecida pela luz que conténs.
Bem vês que tudo isto é frágil. Que é um fio tênue, na mão do vento vertiginoso?
Que é uma prega de papel que depende de um fio?
Que é uma chama que oscila presa em paredes de papel?
Deixo esta imagem entre os meus olhos e o horizonte.
Bem vejo que o fogo, por transparência, converte-se em luz mais suave.
Meu coração, porém, todos os dias te exortará: "Incendeia-te!"
Despreza a ilusão colorida que te limita.
Quanto mais se alastrar pelo teu contorno a inquietação dos ornamentos,
mais a tua riqueza exterior abafará esse alento luminoso que é a única esperança da escuridão.
Incendeia-te! Ainda que dures menos, serás mais inesquecível.
Entre todas as coisas provisórias serás a única deslumbradora.
E os que assistirem à tua passagem poderão dizer:
"Nós vimos o seu destino: foi, como o fogo, livre e intocável. Ninguém lhe fixou imobilidades.
O vento conduzia-a, mas não a apagava. Com ela os dias ficavam mais acesos.
E as noite até hoje são menos escuras, pelo vestígio que ficou da sua aparição."


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