quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Amor e seu tempo - Carlos Drummond de Andrade

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida.
Amor começa tarde.

in "Alguma poesia"

Um comentário:

Sonia Schmorantz disse...

Talvez porque no amadurecimento a gente perca um pouco daquele afã da posse e curta mais o amor pelo amor, não amor propriedade...
beijos